Rui Rio alerta para risco de "democracia se perder para sempre"
Esta semana talvez a resposta seja diferente, dados os acontecimentos recentes em torno da detenção do ex-primeiro-ministro, José Sócrates. Mas se a questão sobre "qual a crise que há no País" fosse colocada na semana passada ou daqui por alguns dias, voltaria a ter a resposta habitual. "Isto é passageiro, na próxima semana as pessoas já acham outra vez que a crise é económica", lamentou Rui Rio, um partidário de longa data de que a maior crise nacional é de índole política.
PUB
Uma posição que, à luz dos acontecimentos recentes - o escândalo no BES, a corrupção na atribuição dos vistos dourados e a detenção de Sócrates - saiu reforçada. Ao contrário do que acha o Presidente da República, que desvalorizou o impacto destes factos na imagem do País, o ex-presidente da Câmara do Porto considerou esta quinta-feira, 27 de Novembro, que Portugal "está num dos pontos mais baixos da [sua] reputação internacional". "Se se puserem na pele de alguém que está lá fora, é evidente que ninguém pode olhar para este País e pensar que a reputação está no auge", acrescentou.
PUB
Já no final de uma longa intervenção durante uma conferência sobre o Orçamento do Estado para 2015, Rui Rio deixou ainda um alerta dramático sobre a sobrevivência do próprio regime democrático. Uma mensagem que já deixou por várias vezes, mas nunca com esta ênfase nem "colada" a factos tão concretos da vida política nacional, num recado que não deixou de fora nem o sistema judicial nem a comunicação social.
PUB
"Em 1974 caiu um regime que estava podre. Tinha 41 anos de idade, levou um encontrão e caiu de podre. O regime que temos hoje está quase com os mesmos 41 anos que o Estado Novo tinha em 1974, face à Constituição de 1933. Achamos que este regime, ao contrário de tudo o mais na nossa vida e no mundo, é eterno. Mas não é. Nem o Sol nem a Terra são. Têm um fim. E se todos os regimes políticos anteriores tiveram um fim, este, vos garanto, que tem fim também", começou por dizer Rio.
O social-democrata, que alguns perspectivam como sucessor de Pedro Passos Coelho e que tem uma grande proximidade com António Costa, o candidato socialista nas legislativas de 2015, avisou que "se a sociedade portuguesa, sejam os partidos, seja a Presidência da República, seja o que for, não se capacitar que tem de arranjar formas de revitalizar este regime", então a democracia pode perder-se "para sempre".
PUB
"Porque cada vez mais os poderes se vão transferir dos órgãos de decisão política para outros poderes da sociedade. E esses outros poderes da sociedade, sejam eles quais forem, não têm um controlo democrático tão evidente como tem o poder político. Se queremos eleger aqueles que verdadeiramente detêm o poder, temos de introduzir as reformas necessárias que nos possam conferir o poder. Senão andamos enganados. Chamamos democracia a isto porque isto tem eleições de vez em quando. Só que a democracia vai muito para lá de termos eleições formais, mesmo com os votinhos bem contados e sem chapelada eleitoral", frisou Rui Rio.
Saber mais sobre...
Saber mais Rui Rio José Sócrates BES Presidente da República Passos Coelho António Costa Presidência da República políticaAdam Smith aos 250 anos
Quem pediu o euro digital?
Mais lidas
O Negócios recomenda