Lava Jato afunda AMAL com dívidas de 135 milhões
Samuel Mendes Pacheco começou a trabalhar aos 15 anos no Barreiro, na Almeida Marques e Almeida (AMAL), em 1974. Mais tarde, após outras experiências profissionais, regressou ao local de partida laboral para adquirir a empresa com os seus dois irmãos por 750 contos (cerca de 3.750 euros). Mudou a AMAL para a Moita em 1987 e transformou a pequena serralharia numa metalomecânica multinacional.
PUB
A internacionalização chegou em 1994, com a execução de projectos na Bélgica e na Alemanha. E em 2003 instalou-se em Angola, onde foi das empresas de referência no sector de construções metálicas industriais, seguindo-se a Eslováquia, São Tomé e Príncipe e, mais recentemente, o Brasil, Argélia, Moçambique e Venezuela.
Em Portugal, viria a abrir mais uma fábrica em Sines em 2003 e, passados cinco anos, outra em Setúbal. Foi a responsável por obras emblemáticas como a estrutura metálica do Estádio da Luz e a cobertura da Praça de Touros do Campo Pequeno, chegou a facturar aproximadamente 150 milhões de euros e a empregar perto de mil pessoas.
PUB
Todo este universo empresarial faliu. A 9 de Março passado, dia em que os credores aprovaram o envio da AMAL para liquidação, mandando cerca de 180 pessoas para o desemprego, as suas três fábricas em solo nacional deixaram de laborar e estão agora à venda por um valor mínimo de 7,6 milhões de euros.
O grupo AMAL faliu com dívidas de 134,7 milhões de euros. De um total de 512 credores, surgem à cabeça a espanhola Técnicas Reunidas, que reclama créditos de 18,8 milhões de euros (que a insolvente não reconhece, declarando-se credora de 13,8 milhões daquela sociedade), a Caixa Geral de Depósitos (14 milhões de euros) e o Novo Banco (12,2 milhões de euros).
PUB
E tudo a Lava Jato levou
Os fortes investimentos industriais realizados em mercados emergentes, sobretudo no Brasil, que não só não geraram o retorno esperado como produziram dívida, são apontados como os maiores responsáveis pela falência da AMAL. O projecto no Brasil, onde investiu nove milhões de euros e empregava centenas de pessoas, acabou por falir devido ao envolvimento do seu principal cliente no escândalo de corrupção conhecido por Lava Jato.
PUB
"A queda do BES [cuja ‘private equity’ tinha adquirido 30% da AMAL em 2009] teve consequências negativas na actividade do grupo AMAL, nomeadamente no Brasil", lê-se num documento, no âmbito do processo de insolvência da empresa, a que o Negócios teve acesso. É que "existia uma garantia do BES associada a uma linha de financiamento de médio e longo prazo contratada junto do Bradesco – 18 milhões de reais (5,5 milhões de euros) – que, decorrente da paragem da operação no Brasil e atendendo à condição do BES, foi executada, tendo-se traduzido em mais um financiamento adicional em Portugal desajustado com a operação aqui desenvolvida".
Adicionalmente, a crise internacional, medidas proteccionistas em muitos dos seus mercados externos e o fecho da torneira dos bancos em Portugal acabaram por levar a AMAL ao tapete. A empresa ainda chegou a apresentar um PER (Processo Especial de Revitalização), que foi rejeitado pelos credores, e a elaborar um plano de recuperação em que pedia, grosso modo, o perdão de 70% da dívida.
PUB
Metalomecânica vocacionada sobretudo para projectos industriais ligados ao sector petrolífero e petroquímico, à data da falência, a AMAL detinha uma carteira de obras ainda por facturar da ordem dos nove milhões de euros, nos Camarões, na Polónia, na Bélgica e na Austrália.
PUB
Saber mais sobre...
Saber mais AMAL construções metálicas Lava Jato Brasil BES Samuel Mendes Pacheco falência insolvência revitalização PER Novo Banco CGD Peniche Oxy CapitalMais lidas
O Negócios recomenda