Portugueses vão comprar menos 100 mil carros. ACAP alerta para falências em massa
As vendas de automóveis em Portugal deverão encolher em perto de 100 mil veículos este ano, para níveis "de 2014 ou 2013", diz ao Negócios o secretário-geral da ACAP, Helder Pedro. Sem medidas fortes do Governo, o setor será duramente atingido e muitas pequenas empresas terão de fechar portas, alerta o dirigente da Associação Automóvel de Portugal.
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As estimativas da ACAP significam uma redução no número de veículos vendidos entre 95 mil e 140 mil unidades, ou seja, uma quebra entre 35% e 53% face aos 267,8 mil automóveis vendidos no ano passado.
As vendas de ligeiros de passageiros caíram 86% nos primeiros 14 dias deste mês e desde 16 de março que a queda supera os 80% em termos homólogos, diz a ACAP, que estima perdas de receitas fiscais na ordem de um milhão de euros por dia. E a associação frisa que o setor automóvel representa 21% das receitas fiscais totais.
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Os representantes oficiais das marcas (ROM) têm tentado limitar a quebra com vendas online e entregas na rede de oficinas oficiais ou mesmo ao domicílio, mas, como reconhecem fontes oficiais de diversas marcas em declarações ao Negócios, "são números muito baixos, quase residuais".
A situação é ainda mais grave para os revendedores de veículos usados, que "não realizam qualquer venda desde o início do Estado de Emergência", nota Helder Pedro. Neste setor, diz, "muitas das empresas, que são de reduzida dimensão, arriscam fechar portas".
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O que defende a ACAP?
Por esse motivo, a ACAP exigiu ao Governo um plano para o setor automóvel, avançando várias propostas. "A ACAP contactou o Ministério da Economia logo na segunda metade de março, mas até agora ainda não foi ouvida. Mais recentemente, enviámos algumas propostas ao Ministério do Ambiente", indica Helder Pedro. O dirigente revela que tem indicações de que a ACAP será recebida no ministério tutelado por Pedro Siza Vieira "muito brevemente" e diz "ter esperança de que o Governo seja sensível aos argumentos apresentados".
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Entre as medidas propostas pela ACAP conta-se a duplicação da dotação para os incentivos à compra de veículos elétricos. "Achamos que no atual contexto as verbas devem ser duplicadas, passando de quatro para oito milhões de euros, aproveitando o financiamento comunitário para apoio aos setores atingidos pela pandemia", indica.
Uma outra proposta da associação é a suspensão do pagamento do Imposto Único de Circulação (IUC) pelos revendedores. "É uma medida sem custos para o Estado. Estamos apenas a pedir um adiamento do pagamento do IUC pelos revendedores de usados para que o imposto apenas seja pago aquando da venda", sublinha. "Os stands de usados que tenham veículos em stock e que tenham de pagar o IUC neste período em que não têm receitas podem não conseguir sobreviver", reforça o secretário-geral da ACAP.
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A associação defende também a introdução de um incentivo ao abate de veículos em fim de vida, permitindo rejuvenescer o parque automóvel e impulsionar as vendas. Num cenário em que o mercado de usados enfrenta uma "catástrofe", a ACAP propõe que estes incentivos incluam a troca de usados por outros veículos em segunda mão com Normas Euro de emissões mais recentes.
Por último, a associação pretende a criação de uma linha de crédito específica para o setor com parte do capital a fundo perdido. "Achamos que o setor está a sofrer um impacto tão duro que muitas empresas não conseguirão suportar o pagamento na íntegra desse endividamento", diz Helder Pedro. O responsável afirma que a parcela a fundo perdido é uma matéria "a negociar", mas adianta que a ACAP aponta para que seja, pelo menos, "entre 15 a 20%".
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