Impacto do apagão para as seguradoras mitigado por duração inferior a 12 horas

A expectativa inicial da DBRS é que as perdas seguradas se situem entre 100 e 300 milhões de euros em Espanha e "uma fração" desse valor em Portugal.
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Leonor Mateus Ferreira 29 de Abril de 2025 às 18:24

As seguradoras deverão sentir um impacto limitado do apagão que afetou esta segunda-feira a Península Ibérica e, em menor medida, o sul de França. A conclusão é da agência de notação financeira Morningstar DBRS que explica que a generalidade das apolíces de seguro das empresas só cobre interrupções a partir das 12 horas, o que não aconteceu neste caso.

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A agência nota, numa análise publicada esta terça-feira, que os cortes de energia afetaram dezenas de milhões de agregados familiares, prejudicando as pequenas e grandes empresas e criando graves perturbações nas viagens. E indica acreditar que a falta de eletricidade poderá gerar um aumento dos pedidos de indemnização relacionados com os seguros de habitação, comerciais, de viagem e de interrupção de atividade.

Embora explique que é difícil fazer uma estimativa das perdas seguradas na situação atual, a expectativa inicial da DBRS é que as perdas seguradas se situem entre 100 e 300 milhões de euros em Espanha e "uma fração" desse valor em Portugal. Acrescenta que as perdas económicas totais serão vários múltiplos destas estimativas.

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"Os prejuízos relacionados com as interrupções da atividade poderão ser graves e dar origem a grandes indemnizações. No entanto, a maior parte das apólices de seguro só começa a cobrir os danos causados pelas interrupções da atividade após 12, 24 ou mesmo 48 horas", diz Mario de Cicco, vice-presidente de Global Insurance and Pension Ratings da Morningstar DBRS. "Consequentemente, os pagamentos das seguradoras deverão ser largamente atenuados pelo facto de o fornecimento de energia ter sido quase totalmente restabelecido em menos de 12 horas".

Devido à natureza excecional do acontecimento e ao efeito generalizado do corte de energia, a DBRS antecipa que as companhias de seguros espanholas e portuguesas irão lidar com um volume extremamente elevado de sinistros. Um volume significativamente elevado de sinistros num período de tempo relativamente curto pode colocar sob pressão as capacidades operacionais das seguradoras. Além disso, a falta de resposta atempada pode também conduzir a danos na reputação "num ambiente altamente competitivo e a ações judiciais".

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Ainda assim, de acordo com a análise da agência de notação financeira, danos elétricos causados por cortes de energia são normalmente cobertos pelas apólices de seguro de habitação. No entanto, a extensão da cobertura depende dos termos e condições da apólice. Os riscos cobertos podem incluir danos em eletrodomésticos, bem como o desperdício de alimentos causado pela falta de refrigeração. Por seu turno, o seguro de bens imóveis para pequenas empresas não inclui normalmente a cobertura de cortes de eletricidade.

"Os detentores de apólices de seguros de viagem terão direito a alguma indemnização devido às grandes perturbações no transporte ferroviário e aos cancelamentos de voos. No entanto, essa indemnização poderá ser em grande parte atenuada devido ao lento regresso aos serviços normais no dia seguinte. A incidência de acidentes de viação parece ser menor. Tendo em conta o referido, consideramos que as perdas financeiras relacionadas com o pagamento de indemnizações às companhias de seguros serão controláveis", refere.

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A par das seguradoras, a DBRS aponta ainda para as potenciais perdas das pequenas e médias empresas (PME), prevendo que os segmentos mais afectados sejam o retalho e a hotelaria. "A maioria das empresas foi forçada a fechar durante grande parte do dia e a ausência de refrigeração afectou provavelmente bares, restaurantes e mercearias. No entanto, alguns dos maiores retalhistas de produtos alimentares puderam contar com geradores de emergência privados e, em alguns casos, permanecer abertos", adverte.

Também as grandes empresas foram afetadas pela falta de energia, o que levou a uma paragem da produção industrial. O não funcionamento dos semáforos durante a maior parte do dia criou o caos nas ruas das maiores cidades, enquanto o transporte ferroviário e os voos nos principais aeroportos sofreram graves perturbações: estima-se que 413 voos de e para Espanha e 372 voos de e para Portugal tenham sido cancelados na segunda-feira, embora os aeroportos tenham permanecido, em geral, funcionais graças aos geradores.

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(Notícia atualizada às 18:50 horas)

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