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Recuo do governo italiano não chega para anular perdas da banca

O governo italiano emitiu três clarificações sobre o imposto extraordinário sobre a banca. O facto de a taxa não poder ser aplicada a mais de 0,1% dos ativos de cada banco acalmou os investidores.

Guglielmo Mangiapane / Reuters
09 de Agosto de 2023 às 20:00
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A viragem do governo italiano relativamente ao novo imposto de 40% sobre os lucros extraordinários da banca, que ao final desse mesmo dia passou a não poder ser superior a 0,1% do ativos totais da instituição, foi bem recebida pelos mercados que anularam algumas das perdas das ações do setor.

A banca italiana, que tinha perdido quase 10 mil milhões de euros em bolsa na terça-feira reduziu, ao longo do dia, a desvalorização para 6,2 mil milhões, dado que a recuperação não chegou para compensar a totalidade da queda. O índice que agrega os bancos cotados em Itália tinha perdido 7,6% e subiu esta quarta-feira 3,68%. Já entre os dois maiores bancos italianos, o Intesa Sanpaolo tinha descido 8,67% e subiu 2,33%, ao passo que o UniCredit tinha caído 5,94% e ganhou 4,37%.

Os analistas foram unânimes em concordar que a alteração reduz materialmente o impacto do imposto face a anteriores estimativas, nomeadamente do Citi, que numa nota tinha avançado que a taxa poderia chegar a 0,5% dos ativos totais dos bancos. No entanto, a Bloomberg Intelligence (BI) alertou para o facto de o esclarecimento prestado pelo ministério da Economia e Finanças italiano não indicar se o que está em causa são os ativos italianos ou consolidados de cada instituição.

Segundo estimativas da BI e da Jefferies, este segundo citado pelo Financial Times, a angariação total com este imposto desce dos anteriores 4,5 mil milhões de euros para 2,5 mil milhões ou menos.

Em comunicado emitido ao final de terça-feira, o ministério esclareceu ainda que a base tributável do novo imposto será determinada com base no montante mais elevado da margem financeira em 2022 que exceda o mesmo valor em 2021 em, pelo menos, 5%. E o mesmo montante para o exercício de 2023 que exceda em, pelo menos, 10% os valores de 2021.

Além disso, o ministério da Economia e das Finanças garantiu que os bancos que já ajustaram a remuneração dos depósitos, tal como recomendado pelo Banco de Itália em meados de fevereiro, não iriam ser abrangidos pelo imposto.

Meloni reage e diz que "sistema bancário tem de se comportar o mais justamente possível"

O palco e respetivo anúncio do inicial do imposto de 40% tinha ficado a cargo do vice-primeiro-ministro e o líder do partido Liga, Matteo Salvini, com a primeira-ministra a preferir ficar na sombra.

Esta quarta-feira, Giorgia Meloni pronunciou-se pela primeira vez afirmando que, devido ao aumento dos preços e do custo das hipotecas, "é chave que o sistema bancário se comporte o mais justamente possível", acrescentando que a medida era direcionada para os bancos que optaram por não traduzir a subida das taxas de juro do Banco Central Europeu nos seus depósitos.

"Vimos os bancos registarem lucros recorde, pelo que decidimos intervir com o único instrumento que o governo tem: os impostos", concluiu.

Esta é a segunda vez que uma medida do governo de Meloni causa turbulência nos mercados. Em abril, as ações da energética Enel caíram a pique depois de um acordo que colocou Flavio Cattaneo na liderança da empresa, um candidato apoiado pelos outros dois partidos da coligação, que encabeça a Fratelli d'Italia, mas que não era o favorito de Meloni. Também nessa altura a primeira-ministra acabou por não intervir até que a turbulência passasse.

Para Carlo Alberto Maffe, professor de estratégia empresarial na Universidade Bocconi, o novo imposto "é um movimento autodestrutivo e devastador para a reputação do país", disse em entrevista à Bloomberg. O governo "desfez numa noite a credibilidade que vinha sendo meticulosamente construída através de uma atitude cautelosa em relação aos mercados e investidores nos primeiros meses" de mandato, resumiu.

Falta de detalhe foi gota de água para os mercados

Ao contrário do que aconteceu com Espanha, Hungria, República Checa e Lituânia, que também anunciaram no último ano impostos extraordinários sobre os lucros da banca, o maior problema do anúncio feito por Salvini foi, na ótica dos analistas, a falta de detalhe e de explicações.

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