Adidas cai mais de 7% em bolsa. Tarifas fazem perder fôlego apesar de lucros robustos
O impacto das novas tarifas e a desaceleração de vendas nos EUA expõem fragilidades num dos mercados-chave da Adidas, colocando pressão sobre as metas para o segundo semestre.
Fundada em 1949 na sequência de uma célebre rutura entre os irmãos Dassler, que culminaria na criação das rivais Adidas e Puma, a gigante alemã de vestuário desportivo atravessa agora um momento de instabilidade no mercado acionista. Apesar de um sólido desempenho operacional no segundo trimestre, a Adidas registou um recuo abrupto nas ações.
Os títulos da Adidas caíram até 9% nos primeiros momentos da sessão desta quarta-feira, fixando-se depois nos 7,61% às 12:13 horas de Lisboa. A descida foi motivada por dois fatores principais: uma quebra nas vendas face às expectativas dos analistas e o impacto previsto das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos da América. As novas tarifas poderão custar à empresa cerca de 200 milhões de euros na segunda metade de 2025, segundo estimativas da Adidas.
“O aumento de preços, a existir, será apenas nos EUA”, afirmou o presidente executivo (CEO) Bjørn Gulden durante a apresentação de resultados, acrescentando que a marca fará uma revisão de preços após a confirmação das tarifas no início de agosto. Gulden frisou, no entanto, que a Adidas não pretende ser “líder nos aumentos” e que irá “agir com cautela”.
Incerteza tarifária pressiona ações
A reação negativa dos mercados resulta sobretudo da incerteza causada pela tarifas norte-americanas sobre as importações, que atingem duramente dois dos principais mercados de aprovisionamento da Adidas: o Vietname (27%) e a Indonésia (19%), salienta a Reuters. Para mitigar os impactos, a empresa recorreu à antecipação de compras para os EUA, o que ajudou a explicar a subida de 16% dos inventários, atualmente em 5,26 milhões de euros.
A Adidas mantem a sua projeção de lucro operacional entre 1,7 mil milhões e 1,8 mil milhões de euros para 2025, mas alertou que esta poderá ser revista, dada a elevada “incerteza macroeconómica”, conforme consta no seu comunicado oficial. Gulden admitiu ainda que não é possível antecipar “o impacto indireto que estas tarifas podem ter sobre a procura dos consumidores”, caso provoquem uma inflação significativa.
Vendas aquém do esperado mas lucros surpreendem
Apesar do ambiente externo adverso, a Adidas apresentou resultados operacionais bastante positivos no segundo trimestre. As receitas subiram 2% em termos homólogos para 5,95 mil milhões de euros, ainda que abaixo dos 6,23 mil milhões previstos pelos analistas, de acordo com dados da LSEG, citados pela Reuters. O impacto cambial negativo de 300 milhões de euros foi determinante para esse desvio.
Já o lucro operacional disparou 58%, atingindo os 546 milhões de euros, ultrapassando os 518 milhões esperados e refletindo uma margem operacional de 9,2%. A empresa beneficiou de uma margem bruta de 51,7% alavancada por menores custos de produto e transporte, além de uma política de descontos mais contida, sendo estes os fatores que permitiram compensar o impacto cambial e os efeitos iniciais das tarifas. Já o lucro líquido das operações continuadas aumentou 77% para 375 milhões de euros.
A Adidas registou uma expansão de 12% das receitas da marca principal em termos ajustados à moeda, com destaque para o crescimento de dois dígitos nos segmentos de calçado e vestuário, impulsionados principalmente por categorias como Running, Basketball, Originals e Samba. Ainda assim, os EUA foram o mercado com o crescimento mais fraco, o que reforça os receios de perda de tração num território onda a concorrência é feroz.
Segundo a CNBC, o CEO da Adidas reafirmou que a marca “não será a primeira a subir os preços” e que os aumentos, caso se concretizem, serão aplicados apenas a novas coleções, mantendo uma abordagem prudente perante o ambiente inflacionista.
Adidas com “mentalidade local”
Gulden fez questão de sublinhar que, apesar dos desafios, a empresa está a aproximar-se da meta de 10% de margem EBIT, apoiada num modelo de negócio “global com mentalidade local”. Com resultados sólidos em mercados como a China, Japão, Coreia do Sul e América Latina, a Adidas acredita estar no caminho certo para reforçar a sua posição em todo o mundo, com a exceção dos EUA, onde o “objetivo passa por duplicar o negócio”, admitiu o CEO.
Com um arranque de ano “excelente”, a empresa mantém o otimismo mas sem euforia. “Sentimos que a volatilidade no mundo não permite grandes projeções. Vamos gerir esta incerteza o melhor possível, sempre com o ovjetivo de fortalecer a marca Adidas a médio e longo prazo”, concluiu.
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