Administradora de insolvência do Boavista pede ao tribunal encerramento do clube
O clube inscreveu-se na quarta e última divisão distrital, mas, uma vez que está solidário com as dívidas da SAD, que contabiliza seis impedimentos de inscrição de novos atletas junto da FIFA, abdicou de competir em outubro, sem efetuar qualquer partida esta época.
A administradora de insolvência do Boavista solicitou ao Tribunal de Comércio de Vila Nova de Gaia que ordene o encerramento do clube, que abdicou de competir no último escalão distrital da Associação de Futebol (AF) do Porto.
De acordo com o requerimento, datado de segunda-feira e ao qual a agência Lusa teve acesso esta terça-feira, a comissão de credores pronunciou-se pelo fecho da atividade do emblema portuense, entendimento seguido pela administradora de insolvência, "devido ao mesmo estar a gerar prejuízos para a massa insolvente, com o consequente acumular de dívida".
A liquidação do Boavista tinha sido aprovada em setembro, com os credores a rejeitarem o adiamento por 30 dias da votação do plano de recuperação da direção 'axadrezada', presidida por Rui Garrido Pereira, que recorreu dessa deliberação e vinca agora que vai adotar "todas as medidas ao seu alcance para garantir o funcionamento regular do clube".
"Nesse sentido, será apresentado ao tribunal um requerimento destinado a impedir uma decisão que, sendo reversível, produziria efeitos imediatos profundamente lesivos para o clube, os seus praticantes e o desporto português", informou o Boavista, em comunicado.
Responsáveis por garantir a prática desportiva regular de quase 2.000 jovens atletas, as 'panteras' consideram a continuidade da sua atividade "essencial para preservar o valor institucional e histórico do Boavista e permitir a sua recuperação", evitando impactos de "largo alcance", numa altura em que já não têm uma equipa de futebol sénior masculino.
"O modelo de gestão aplicado à liquidação de sociedades comerciais não é diretamente aplicável a clubes desportivos. Os clubes desempenham uma função social ampla, cuja interrupção não se limita aos impactos contabilísticos, mas recai sobre comunidades inteiras", notou, dizendo que o eventual encerramento "não determina o fim" do Boavista.
A direção de Rui Garrido Pereira pediu a intervenção urgente do tribunal para que seja determinado o cumprimento integral do protocolo celebrado entre o clube e a SAD das 'panteras', ou, em alternativa, a libertação das instalações do clube, que está a cargo da gestão do Estádio do Bessa, em função da situação de insolvência daquela sociedade
"Mais uma vez, a direção reafirma o seu compromisso com a defesa dos praticantes, do património desportivo do clube e da sua continuidade enquanto instituição de utilidade pública desportiva ao serviço da comunidade", frisou, revelando estar em "negociações com várias entidades para viabilizar a recuperação financeira e desportiva" do Boavista.
O clube detém 10% do capital social da SAD, que deveria disputar a II Liga em 2025/26, mas deixou de ter uma equipa profissional no verão e foi relegada administrativamente para o principal escalão da AF Porto, sendo 18.ª e última colocada e estando a alinhar como anfitriã no Parque Desportivo de Ramalde, a cerca de 2,5 quilómetros do Bessa.
O clube inscreveu-se na quarta e última divisão distrital, mas, uma vez que está solidário com as dívidas da SAD, que contabiliza seis impedimentos de inscrição de novos atletas junto da FIFA, abdicou de competir em outubro, sem efetuar qualquer partida esta época.
A SAD liderada pelo senegalês Fary Faye tem alinhado com antigos e atuais atletas da respetiva equipa de sub-19, da II Divisão nacional daquele escalão, e continua a tentar resolver as restrições da FIFA - duas incidem sobre três períodos de inscrição e quatro têm duração ilimitada -, que tinham vigorado em anos anteriores e reapareceram em março, impossibilitando, para já, a utilização dos reforços oficializados durante o verão.
O clube tinha lançado no verão uma equipa sénior independente da SAD, afetada pela ausência de pressupostos financeiros aquando do licenciamento para as competições nacionais e cujo direito de apresentar um plano de recuperação foi aprovado por maioria pelos credores, que votaram por unanimidade a continuidade da atividade 'axadrezada'.
Despromovido à II Liga em maio, após ter fechado a edição 2024/25 da I Liga no 18.º e último lugar, o Boavista concluiu um trajeto de 11 épocas seguidas no escalão principal, sendo um dos cinco campeões nacionais da história, face ao título vencido em 2000/01.
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