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BBVA pode recorrer à Justiça contra interferência do Governo espanhol na OPA ao Sabadell

O Governo espanhol aprovou a OPA do BBVA sobre o Sabadell mas com condição de os dois bancos se manterem como entidades separadas durante pelo menos três anos.

Madrid dificulta OPA do BBVA ao Sabadell, exigindo independência por três anos
Madrid dificulta OPA do BBVA ao Sabadell, exigindo independência por três anos DR
19 de Julho de 2025 às 14:26

O processo aberto pela Comissão Europeia contra Espanha dá ao banco BBVA a oportunidade de recorrer para o Supremo Tribunal contra a intervenção do Governo espanhol na OPA que lançou sobre o Sabadell, disseram fontes judiciais à Efe.

Em 24 de junho, o Governo espanhol aprovou a Oferta Pública de Aquisição (OPA) do BBVA sobre o Sabadell mas com condição de os dois bancos se manterem como entidades separadas (personalidade jurídica, património e gestão) durante pelo menos três anos.

O executivo espanhol argumentou que impunha esta condição em nome do "interesse geral", para manter o apoio ao crescimento e à atividade empresarial, proteger os trabalhadores e os clientes e alcançar a coesão territorial, entre outras razões.

Desde o lançamento da OPA, o BBVA tem considerado que apenas a Comissão Nacional dos Mercados e da Concorrência (o regulador) está autorizada a impor condições. Embora esta transação em concreto tenha sido analisada exaustivamente e a lei estipule que o Governo se pode manifestar nestes casos, o banco interpreta que só o poderá fazer para dar aprovação ou mesmo reduzir exigências.

Contrariamente a este argumento, tanto o Banco Sabadell como o Governo consideram que a lei permite o reforço dos compromissos acordados entre o BBVA e a CNMC ou a imposição de condições adicionais.

Face a isto, o Governo espanhol lançou uma consulta pública sem precedentes para recolher a opinião de terceiros.

A presidente da CNMC, Cani Fernández, considera que a lei da concorrência "faz pouco" para esclarecer se o Governo pode impor novos compromissos com base no interesse público.

Segundo fontes jurídicas contactadas pela agência Efe, a disparidade de critérios e o facto de o Governo ter imposto a condição de não haver fusão durante três anos significam que o BBVA tem a opção de contestar a decisão do Governo.

Um dos argumentos que o BBVA pode usar é de que a fusão foi aprovada por unanimidade pela CNMC.

Além disso, a Comissão Europeia abriu esta semana um processo de infração contra Espanha por causa da legislação que permitiu ao Governo condicionar a fusão dos bancos BBVA e Sabadell.

Para a sociedade de advogados Navas & Cusí, especializada em direito financeiro e europeu, o argumento do interesse geral é um conceito jurídico "excessivamente amplo e indeterminado" e considera que o veto de uma transação bancária corporativa violaria o artigo 63.º do Tratado sobre o Funcionamento da UE, relativo à livre circulação de capitais.

Para o advogado Juan Ignacio Navas, a possibilidade de veto constitui "uma interferência política que Bruxelas --- com razão --- vê com desconfiança" e recorda que o Tribunal de Justiça da União Europeia deixou claro em diversas ocasiões que os vetos públicos são inaceitáveis se a transação for comercialmente razoável e justificada.

Outros juristas ouvidos pela Efe concordam que o BBVA tem mais fundamentos para recorrer para o Supremo Tribunal contra a intervenção pública na transação após Bruxelas ter aberto um processo a Espanha.

O banco basco BBVA lançou a OPA sobre o catalão Sabadell em meados de 2024.

A OPA hostil foi autorizada pelo regulador espanhol no final de abril, mas o Governo espanhol podia invocar ainda princípios de "interesse geral" e intervir no processo, impondo mais condições para a concretização da operação, o que ocorreu no passado junho.

Nunca o Governo espanhol tinha avançado com uma decisão destas face a uma OPA.

Esta operação tem acendido o debate económico e político em Espanha e tem sido criticada por cerca de 70 associações empresariais (sobretudo catalãs) e sindicatos.

Se a OPA tiver sucesso, a fusão dos dois bancos criaria uma entidade com perto de um bilião de euros em ativos, 135.462 trabalhadores em todo o mundo (dos quais 19.213 do Sabadell) e uma rede de mais de 7.000 agências. Seria dos principais bancos europeus e ultrapassaria o CaixaBank (dono do BPI) em ativos, posicionando-se como o segundo maior banco de Espanha em ativos.

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