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Financiar habitação a 100% divide banqueiros

Miguel Maya defende que o regulador nacional faça uma reflexão com os bancos sobre as regras macroprudenciais que impedem o financiamento da totalidade dos imóveis, algo que só é possível ao abrigo da garantia pública. BPI também quer mudar os limites, mas o Santander não.

Garantia pública veio trazer ao debate o travão macroprudencial ao financiamento bancário para a compra de casa
Garantia pública veio trazer ao debate o travão macroprudencial ao financiamento bancário para a compra de casa João Cortesão
19:55

O BCP quer poder dar crédito a 100% para a compra de habitação própria permanente a todos os seus clientes, não apenas aos jovens que beneficiam da garantia pública. Na “Banca do Futuro”, Miguel Maya pede ao regulador que se oiçam os bancos e que, se assim o entender, mude as regras. A alteração, contudo, não é consensual entre os banqueiros.

“Não há nada que me faça desistir se achar que vale a pena mudar”, atirou Maya quando questionado sobre se faria sentido a banca poder conceder financiamento pela totalidade do valor do imóvel.

“Relativamente ao tema das regras macroprudenciais, tudo o que seja proteger o consumidor e a estabilidade do sistema, acho que faz sentido”, mas “no caso do financiamento a 100%, a primeira coisa que temos de ver é: quais é que são as razões de incumprimento no crédito à habitação? É o LTV [‘Loan-to-Value’], é o financiamento a 100%? Ou é o desemprego, a doença e o divórcio? Estas sãs as três maiores causas que estão na origem da maioria das situações”, disse.

“Os 100% [de financiamento no crédito à habitação] fazem sentido”, na opinião de Miguel Maya que diz que não conta “recuperar pela via da garantia pública praticamente nada. A única coisa que [esta medida] dá é o conforto de poder fazer esse crédito” para a compra de casa. “Nos casos em que tiver o desemprego, a doença e o divórcio vou, então, utilizar a garantia pública”, diz, mas “não precisava da garantia pública para este efeito”.

É neste sentido que Maya diz que “é preciso que o regulador nacional faça uma reflexão connosco”, para se perceber se faz, ou não, sentido permitir à banca financiar a 100% a compra de imóveis pelos particulares. O CEO do BCP quer que o Banco de Portugal “oiça os diferentes pontos de vista e se entender” que faz sentido, mude as regras.

Medida transitória

Uma das vozes que entende que não faz sentido haver uma limitação ao financiamento da banca no crédito para a compra de casa é a de João Pedro Oliveira e Costa, o CEO do Banco BPI. Os bancos deveriam poder financiar mais do que os habituais 85% dos valores dos imóveis. “Podíamos ir mais além”, afirma.

A posição é defendida pelo CEO de um banco que tem conseguido conquistar muitos clientes à boleia da garantia pública, iniciativa do Governo que permite o financiamento da totalidade do valor do imóvel para pessoas até aos 35 anos de idade. À quota inicial, o BPI já juntou mais 100 milhões de euros, sendo que metade deste montante está já comprometida, colocando o banco com uma quota nesta medida que se aproxima da do Santander Portugal e da Caixa Geral de Depósitos.

O CEO do BPI defende a medida, mas diz que não chega. “Faz sentido incentivar a oferta, porque este incentivo é na procura e tem impacto no preço”, atira o responsável. E o mesmo defende Pedro Castro e Almeida: “tudo o que sejam medidas no lado da procura têm de ser transitórias. Se estivermos a falar de um período de três anos pode ser uma medida transitória”, disse.

O Santander, pelo peso que tem no crédito aos jovens, recebeu a maior “fatia” da garantia pública. Tem registado uma forte adesão, mas a medida tem, acredita, contribuído para o aumento do preço das casas no mercado nacional. É neste sentido que o ainda CEO do banco entende também que por regra, não é boa ideia financiar 100% do valor da habitação.

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