A inovação está em todo o lado. Até na sola dos sapatos?

Não é o preço mas a qualidade que está a ditar como o sector português do calçado está a conseguir crescer fora de portas. A inovação entra nesta fórmula e quer ser levada mais longe, com a captação de novos talentos. Porque a digitalização da indústria “não é uma coisa só de ‘geeks’”.
Wilson Ledo 08 de Novembro de 2016 às 21:38

Manuel Caldeira Cabral chegou com a voz rouca ao Lx Factory, em Lisboa. Ali abriu o sétimo Forum Alpha, dedicado à indústria lusa do calçado. "Estive, como se nota pela voz, pelo Web Summit", justificou--se o ministro da Economia. Trazia, uma vez mais, o tópico da inovação no discurso.

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À sua frente, universitários e rostos do sector. "A digitalização da indústria não é uma coisa só para ‘geeks’". O sector já tinha mostrado que o sabia, ao anunciar internet sem fios gratuita para que os participantes pudessem partilhar as suas experiências da conferência online.

As exportações do calçado rondam os dois mil milhões de euros e a indústria nacional passou de 14ª para a segunda mais cara do mundo enquanto mandava mais produto além-fronteiras. O choque da abertura à globalização não venceu a resposta "forte".

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"Isto foi feito com inovação. É isto que a indústria do calçado soube fazer nos últimos anos", elogiou. O ministro trouxe ainda outra visão ao seu discurso: "a ideia de que o país pode ser competitivo pelos baixos salários é uma ideia que os jovens condenaram ao fracasso".

O líder da Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS) respondeu no mesmo sentido. "Se a raiz da nossa competitividade for o preço, ela vai desaparecer ao longo do tempo", defendeu João Maia. O sector, muitas vezes classificado como tradicional, tem-se renovado pela qualidade e resposta às exigências dos clientes, cada vez mais fora do território da União Europeia.

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"O mercado extracomunitário vale 15% das exportações. Esperamos crescer mas não vamos substituir o mercado europeu", garantiu ao Negócios. O calçado português tem em marcha o plano estratégico para o actual quadro comunitário, financiando projectos específicos, e não esquece a sua política de inovação.

Daí que nesta terça-feira, 8 de Novembro, o auditório fosse na maioria ocupado por estudantes. Histórias de percursos profissionais juntaram-se com retratos do sector, sem esquecer sugestões para que os mais jovens encarem o calçado como uma oportunidade de trabalho no futuro.

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Atrair jovens empreendedores é pois uma das chaves para "renovar o sector". Coincidência ou não, o repto chega em semana de Web Summit. Caldeira Cabral fez novamente a ponte e lembrou que muitos investidores "estão a olhar para Portugal, porque tem um ambiente empreendedor muito interessante".

Ao Governo cabe apoiar e orientar o ecossistema da inovação. "Há muitas incubadoras no país mas cada um a trabalhar para o seu lado. Queremos que estas start-ups cresçam", reconheceu o ministro. No calçado e fora dele.

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Nobrand e o saber de felgueiras

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Localizada em Felgueiras, a Nobrand já chegou a 30 países, como Colômbia, EUA ou Rússia. Sérgio Cunha diz ter nascido "dentro de um sapato" e levou a tradição familiar mais além. Emprega 120 pessoas e está disposto a receber mais jovens. "Quando a indústria era obsoleta, era quase proibido colocar o ‘made in Portugal’. Hoje é o contrário", orgulha-se.

Fátima lopes no cruzamento de áreas

Enquanto criadora de moda, Fátima Lopes tem um lema: "temos de criar sinergias com os profissionais de cada área". Foi assim que chegou já à sua quinta colecção de sapatos. A internacionalização deste produto é ainda "um bebé". "A mim disseram-me muitas vezes que não ia conseguir", lembrou, como incentivo.

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Labuta a recuperar tradições de calçar

Com um ano de existência, a Labuta, localizada na Benedita, Leiria, homenageia as profissões nacionais como inspiração para os seus sapatos. Cada par demora mais de quatro horas a fazer. Pedro Olaia lembra que é preciso colocar a máquina do marketing a funcionar. EUA, Japão, Suíça e Canadá são os primeiros mercados no horizonte. 

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