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Segurem as PME

Os seguros de crédito facilitam a entrada em mercados externos, o acesso ao financiamento bancário e reduzem a exposição ao risco das empresas. Paulo Rola e Nuno Magalhães não hesitaram em subscrevê-los, mas sublinham a falta de informação que ainda existe sobre o sistema.

01 de Setembro de 2011 às 10:22

A Central de Cervejas e Bebidas fez uma apólice de 200 milhões de euros para se proteger da actual conjuntura económica. O mecanismo de defesa eleito foi um seguro de crédito da Coface, que permitiu um maior investimento em crédito e um aumento das vendas. O seguro foi subscrito por prudência. O comportamento dos mercados financeiros internacionais e o clima austero que se vive foram motivos suficientes para a empresa querer diminuir a sua exposição ao risco no mercado doméstico e de exportação. De acordo com os seus responsáveis, o objectivo foi alcançado.

No terceiro trimestre deste ano, os níveis de insolvência em Portugal atingiram novo recorde histórico. De acordo com a Crédito y Caución, mais de 2.500 empresas abriram processos de falência entre Maio e Junho, mais 18% do que no primeiro trimestre e mais 71% do que no período homólogo. Um em cada três envolve empresas directamente associadas ao sector dos serviços, seguem-se os sectores da construção e o têxtil, que regista a maior queda: menos 23% de processos entre Janeiro e Junho de 2011.

Paulo Morais, director da Crédito y Caución para Portugal explica que, apesar do retrocesso nas falências, a actual conjuntura macroeconómica do país faz antever uma viragem nos próximos seis meses. "O mercado deverá assistir a um crescimento do número de insolvências no sector têxtil e ao agravamento dos prazos de pagamento além dos 120 dias." O director acrescenta que o sub-sector mais afectado deverá ser o do retalho, prejudicado pela pressão nos preços e aumento da concorrência, "o que deverá favorecer o monopólio das grandes cadeias de distribuição".

As Pequenas e Médias Empresas (PME) têm sido alvo de restrições no acesso ao crédito, sendo esta uma das principais causas de insolvência, segundo os especialistas da Crédito y Caución. É aqui que os seguros de crédito entram: oferecem soluções que garantem a liquidez das organizações. "É aconselhável que as empresas intensifiquem a sua vigilância, analisando os riscos comerciais associados a cada um dos seus clientes e que estabeleçam, de forma precisa, os limites de crédito a serem atribuídos em cada caso", acrescentou Paulo Morais.

Injectar liquidez

Na Crédito y Caución, as empresas podem reduzir o prazo de indemnizações e receber uma injecção de liquidez 30 dias após o incumprimento. Este mecanismo, o CyCash, "muito simples e de fácil gestão", permite que os segurados antecipem o pagamento das indemnizações, com uma cobertura de 80%. O prazo pode ser acordado em três, seis ou 12 meses, dependendo das necessidades de financiamento. Além deste, a Crédito y Caución dispõe de uma plataforma de assessoria em comércio exterior, que reúne a informação prática sobre os mercados internacionais, a Cycomex. Objectivo: esclarecer as 500 dúvidas mais frequentes das empresas que querem iniciar um processo de internacionalização.

As operações comerciais realizadas em Portugal ficam protegidas com a Apólice de Mercado Interno, enquanto a do Externo protege as que se dedicam à exportação. Para as organizações com negócios de âmbito internacional, a seguradora disponibiliza a Apólice Líder, e a Europa + destina-se a empresas que precisam de crescer na União Europeia, mas receiam expor-se a riscos desconhecidos.

Além da Crédito y Caución, operam no mercado português a Coface, Cesce, Cosec e Mapfre Seguros. A Coface pertence a um dos maiores grupos financeiros franceses, o Grupo Natixis, em Portugal desde 2001. Os seus seguros visam controlar o balanço de dívidas de terceiros a curto prazo, sendo que a cobertura de risco doméstico e de exportação é integrada numa só apólice.

"Prevemos que o número de empresas que recorre a este produto vai aumentar. Por um lado, fruto da necessidade de internacionalização e processos de exportação, e, por outro, do aumento da profissionalização da gestão das empresas portuguesas", explica Sérgio Lopo, director, afirmando que ainda existe um trabalho muito grande de democratização do acesso ao seguro de crédito em Portugal.

Segurança nas vendas

Para Nuno Francisco, director da Cesce, não vale a pena dizer que o futuro está nas exportações, porque muitas empresas não têm condições financeiras ou estrutura económico-financeira para exportar.

Com a Apólice Master, a empresa sabe que a seguradora analisa o risco dos potenciais clientes dos mercados externos, informa sobre a probabilidade de incumprimento e prazos de pagamentos. Numa segunda fase, garante um limite de crédito ao devedor e, se houver incumprimento, assegura a cobrança após o pagamento. "Actuamos na gestão da apólice e na das linhas de crédito ao longo da relação entre cliente e fornecedor. Também actuamos à posteriori, na parte da cobrança e dos valores em dívida." Além da segurança, também pode facilitar o acesso ao crédito. "Essa é, se calhar, a vertente menos explorada."

As PME têm tido dificuldade em manter o acesso ao crédito bancário a um preço suportável. Com estas apólices, pode ser mais fácil. Cerca de 45% dos activos no balanço das empresas são contas de clientes, ou seja, valores a receber. Se as empresas tiverem uma proteção para esse activo, este pode tornar-se "fundamental".

O maior desafio das operadoras de crédito é tentar recuperar o mercado. Na Cesce, não há um valor mínimo para a constituição de uma apólice. O preço depende das coberturas contratadas, dos prejuízos indemnizáveis e dos prazos para indemnização. "Temos um produto mais 'standard' até um milhão de euros, com condições mais rígidas", explica.

Regra geral, as apólices mais pequenas cobrem cerca de 80, 85% das vendas enquanto que uma maior chega aos 90%, no mercado interno e externo. Nas primeiras, o prazo de indemnização é de 180 dias enquanto que numa superior, podem encurtá-lo até aos dois meses. "O risco das organizações está em constante evolução." A Cosec e a Mapfre Seguros não estiveram disponíveis para colaborar no artigo do Negócios.

TRÊS PERGUNTAS A...

Sérgio Lopo

Director de Seguro de Crédito da Coface

"É uma solução essencial na internacionalização"

Vale a pena as PME subscreverem seguros de crédito?

As empresas precisam de chegar aos mercados externos para aumentarem o potencial de vendas e adoptar uma política de gestão de risco de crédito compatível com o objectivo de crescimento. Se os seguros de crédito já se apresentam como vantagens inquestionáveis no mercado doméstico, então quando extrapolamos para a exportação, diversificando para zonas com bom potencial comprador e onde exista um crescimento sustentado da economia, reveste-se de extrema importância. A Coface possibilita que os seus clientes beneficiem de uma garantia complementar para apoio ao crédito comercial para países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), no âmbito de dois protocolos assinados com o Estado. Esta linha visa reduzir os impactos das restrições de crédito e o aumento do risco de clientes. Assim, preservam a confiança nas relações entre fornecedores, clientes e demais agentes económicos.

Como é que funcionam?

O seguro de crédito não deve ser pensado apenas como uma almofada em épocas de crise, mas como um elemento natural em qualquer negócio. É uma excelente ferramenta para a prevenção do risco de incumprimento e protecção das consequências, como a perda do montante, eventual falta de liquidez, despesas de gestão de cobrança e pesquisa de novos clientes. É uma ferramenta que fornece informação valiosa para a correcta percepção do risco e das oportunidades de negócio que pretendem avaliar. A cada cliente é atribuído um limite de crédito que determinará o montante a indemnizar em caso de insolvência do devedor, além do prazo máximo previamente definido. A seguradora disponibiliza o serviço de gestão da cobrança dos créditos vencidos, a partir do momento em que são declarados.

Que riscos correm as empresas que não se defendam com este mecanismo?

Correm o risco de se tornarem insolventes, devido à falência dos seus clientes. Numa altura em que Portugal coloca o enfoque de crescimento económico no vigor das exportações, o seguro de crédito é essencial para singrar em novos mercados, de forma sustentada e duradoura. Permite que as empresas tenham um parceiro que conheça as especificidades legais, práticas comerciais, empresas locais e preste um conjunto de serviços de cobrança no caso de incumprimento. É uma solução essencial na internacionalização, porque permite às empresas trabalharem com alguém que as ajuda a efectuar a gestão dos créditos comerciais, minimizando o risco de entrada em novos mercados.

TRÊS PERGUNTAS A...

Nuno Francisco

Director da CESCE Portugal

Nuno Francisco

"Analisamos individualmente os devedores"

"Analisamos individualmente os devedores"

Lançaram recentemente a Apólice Master. Em que consiste?

O mercado funciona da mesma forma há praticamente 20 anos. Aquilo que a CESCE introduziu são algumas diferenças em termos de análise e gestão da apólice. Temos um conceito de preço flexível, onde passamos a análise do risco para os clientes da empresa. Analisamos individualmente os devedores num modelo de "scoring", onde verificamos qual a probabilidade de incumprimento de cada um e, com base no resultado, dizemos quanto custa a cobertura para cada cliente. É a grande novidade: o preço depende dos riscos que as empresas assumem. Se ele vender para um Modelo / Continente terá uma boa taxa para as vendas, porque tem uma probabilidade de incumprimento relativamente baixa, mas se vender para uma pequena loja terá uma maior. Isto permite que os nossos clientes possam canalizar as vendas para os clientes de melhor risco. Como estamos a cobrar um preço ligeiramente mais alto a quem tem pior risco, temos margem para manter os limites se houver alta sinistralidade. Assim que existir um aumento de incumprimento, não cortamos os limites nem reduzimos as apólices.

Quantas empresas tem a vossa carteira de clientes?

Temos cerca de 500 clientes activos e 85% da nossa carteira são PME. Há cerca de ano e meio, quando os bancos começaram a estrangular algumas empresas, a restringir o acesso ao crédito e a aumentar os "spreads", muitas viraram-se para a área do "factoring", porque era outra forma de se poderem financiar. Hoje, até esta área está a deixar de fazer negócio. É difícil encontrar alternativas.

Em situações de incumprimento, como é que actuam?

Todos os dias temos participações de sinistros. O facto de existirem participações não quer dizer que haja incumprimento, porque pode ser apenas um atraso no pagamento, a que se chega, posteriormente, a acordo. Analisamos a situação, pagamos, fazemos a indemnização e, depois, actuamos perante o incumpridor. Estabelecemos um plano de pagamento para recuperar esses valores e temos uma equipa especializada em cobranças, que só se dedica a isso. As empresas que têm seguro começam agora a respeitar os prazos de participação e, ao mínimo atraso, não esperam. Mas o cliente pode pagar passados alguns dias. Muitas situações resolvem-se e o facto de existir a participação é sinal de que as empresas estão atentas.

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