Investimento de capital de risco cria empresas mais rentáveis e produtivas
O estudo do ISCTE mostra que as sociedades de gestão de risco estão a conseguir capacitar as startups e empresas portuguesas acima da média nacional. Vendas, emprego e exportação disparam.
O capital de risco tem permitido alavancar centenas de startups a tornarem-se globais, mas também dá mais ganhos do que se poderia pensar inicialmente, principalmente à economia. Um estudo do ISCTE para a Associação Portuguesa de Capital de Risco (APCRI) mostra que empresas que receberam investimentos por capital de risco estão a gerar 12,3 vezes mais receitas e a criar 15,1 vezes mais emprego do que a média nacional.
O estudo "Impacto do Capital de Risco em Portugal" evidencia ainda que 48,8% do volume de negócios das empresas investidas se referem a exportações, o que justifica o facto destas apresentarem resultados anuais superiores à média das empresas a nível nacional, algo que, segundo os autores Paulo Carvalho e Carlos Pinheiro, "reforça a tese de que este modelo de financiamento contribui para a internacionalização da economia portuguesa". E o valor agora registado significa ainda uma subida face aos 37,3% observados até 2019.
"Quando projetado para o total de empresas participadas, as empresas financiadas por capital de risco contribuem 4,4% para o volume de negócios nacional. Estes resultados, em conjunto com os dados sobre emprego, reforçam o papel estratégico do capital de risco como catalisador de crescimento e como instrumento de reforço da competitividade da economia portuguesa, especialmente em contextos macroeconómicos adversos", apontam os autores do estudo.
Em termos de emprego, as startups investidas ganham ao albergar uma média de 125 trabalhadores das empresas investidas, contra os 8,3 das restantes empresas. Os investigadores do ISCTE destacam que este é o maior número absoluto de trabalhadores, mas também a maior variação de 35,6 pontos percentuais acima da média, segundo dados entre 2014 e 2023.
Stephan de Moraes, presidente da APCRI, aponta em comunicado que os impactos provados no estudo estão alinhados com o impacto demonstrado noutros países. "Os investimentos em empresas por fundos de 'private equity' e 'venture capital' trazem capitalização, melhor gestão, maior escala, mais internacionalização, gerando vendas, rendibilidades e produtividades muito acima das que não recebem este investimento”, afirma.
“Imagine-se o impacto que terá na economia quando o 'private equity' em Portugal tiver a mesma expressão que tem nas economias mais desenvolvidas: é transformador”, conclui o gestor.
No conjunto das 16 sociedades de capital de risco que responderam ao inquérito, num total de 60 inquiridas, "o montante total de capital angariado ascendeu a 4,46 mil milhões de euros, o que representa 48,2% do total de ativos sob gestão pelas sociedades, conforme dados divulgados pela CMVM no seu relatório de 2023", com o valor médio angariado por sociedade a situar-se em 279 milhões de euros, representando um acréscimo de 133,5% face aos dados de 2019.
Estes dados apontam ainda para um volume de negócios anual das empresas financiadas de 21,7 mil milhões de euros, o que corresponde a 177 mil postos de trabalho. E neste segmento entra também o pagamento ao Estado português, sendo que estas empresas pagaram uma média de 2,2 milhões de euros de IRC por firma.
“Um ponto relevante do estudo é que, nas empresas apoiadas por 'private equity' e 'venture capital', o EBITDA [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações] médio é de 1,5 milhões, face aos 200 mil euros da média nacional, ou seja, 7,5 vezes mais”, afirma o presidente da APCRI, Stephan de Moraes, citado em comunicado. No "private equity", o EBITA médio é de cinco milhões, significando 25 vezes que a média nacional.
“Para um Governo que colocou o crescimento económico como a primeira prioridade desta legislatura, é muito importante que os Ministérios da Economia e das Finanças saibam, com precisão académica, que há um setor que investe capital privado nas empresas portuguesas e que, através da sua gestão, as torna bastante maiores, mais eficientes, mais inovadoras e mais exportadoras do que a média nacional”, afirma Stephan de Moraes, presidente da APCRI e também co-fundador da Indico Capital Partners.
Na visão do investidor, o capital de risco precisa de melhores condições. "Os resultados apurados pelo ISCTE são o melhor estímulo para que o Governo concretize rapidamente duas medidas do programa que em junho apresentou à Assembleia da República: a constituição de um fundo de fundos sob gestão do Banco Português de Fomento e incentivos a investidores institucionais, como fundos de pensões ou seguradoras, para que participem em fundos de 'private equity' e de 'venture capital' que invistam em empresas nacionais”.
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