"Custo continua a ser uma barreira à adoção de IA"
A Amazon Web Services considera que as PME e grandes empresas têm de aumentar o seu investimento em tecnologia tem de aumentar. André Rodrigues, português na tecnológica, diz ao Negócios que "Portugal tem uma base sólida".
O ritmo de adoção de Inteligência Artificial (IA) está a crescer, mas o custo ainda é um entrave ao investimento das empresas. Na visão da AWS, as companhias já não olham para este tema como uma questão de "se devem investir".
Em entrevista ao Negócios, André Rodrigues, "Head of Technology ISV" para a Europa do Sul e França da AWS, as grandes empresas e PME têm de acelerar a adoção da tecnologia para melhorarem as suas competências e conseguirem reduzir a lacuna de competências. Acesso a telento qualificado e financiamento é uma das razões para investir.
As empresas portuguesas estão a adotar IA a um ritmo crescente. O caminho que está a ser traçado permite colocar Portugal entre os países europeus com maior adoção?
Portugal está a acelerar na adoção de IA: 41% das empresas portuguesas já utilizam IA, um crescimento de 17% face ao ano passado. O investimento também aumentou 24%, acima da média europeia de 22%.
As startups destacam-se — 55% integram IA nas suas estratégias de negócio, contra 38% na Europa. No entanto, no panorama geral, apenas 19% das empresas portuguesas têm uma estratégia de IA bem definida, e 47% têm orçamentos dedicados (vs. 25% e 58% na média europeia).
Portugal tem bases sólidas: uma estratégia nacional clara, forte empreendedorismo e inovação. Para se destacar entre os líderes europeus, é essencial acelerar a adoção nas grandes empresas e PME, reduzir a lacuna de competências e garantir mais clareza regulatória e de retorno sobre o investimento.
As startups têm sido as grandes impulsionadoras. Pode continuar assim ou as PME também têm de traçar o seu caminho?
As startups continuam a liderar a inovação em IA em Portugal, com 62% já a utilizar estas tecnologias e 35% a aplicá-las de forma transformadora, criam novos produtos e serviços, o que confirma o seu dinamismo.
Para que o país capitalize plenamente este potencial, é essencial que as PME também avancem, já que representam a maioria do tecido empresarial e do emprego nacional. Atualmente, apenas 17% das PME usam IA de forma mais avançada e 65% mantêm-se em estágios iniciais, o que revela um enorme potencial ainda por explorar.
As necessidades das PME são diferentes das startups, que nascem com a tecnologia “no centro". As PME precisam de soluções integráveis, orientadas para desafios concretos e que não exijam equipas técnicas especializadas.
Por isso, é fundamental garantir financiamento acessível, casos de uso com ROI [Return on Investment] claro, acesso a talento qualificado e ferramentas simples, e é esse um dos grandes focos da AWS, democratizar o acesso da IA a todas as organizações.
O sucesso da IA em Portugal passa por um ecossistema equilibrado onde startups continuem a inovar e PME acelerem a sua transformação digital, com ritmos distintos, mas objetivos comuns.
O custo vai continuar a ser um desafio nos próximos anos?
Neste momento, o custo continua a ser uma barreira, com 34% das empresas portuguesas a identificarem os custos iniciais como um dos principais obstáculos à adoção de IA, mas esta perceção tende a diminuir à medida que o mercado evolui e os benefícios se tornam mais visíveis.
A IA baseada na cloud está também a democratizar este acesso, ao permitir que as empresas testem soluções com custos mais baixos, transformando grandes investimentos em despesas operacionais flexíveis, o que facilita a experimentação e reduz riscos.
O acesso a talento continua a ser um fator crítico, com 44% das empresas a identificarem dificuldade em contratar perfis digitais, o que pode aumentar os custos de implementação, mas espera-se que esta pressão diminua com os incentivos à formação em IA. O desafio será garantir que as empresas compreendem o retorno do investimento que fazem, o que reforça a importância de educar o mercado sobre os benefícios mensuráveis desta tecnologia.
No fundo, embora o custo ainda seja um fator a considerar, tudo indica que a questão deixará de ser “se vale a pena” investir em IA, mas sim se as empresas podem mesmo dar-se ao luxo de não investir.
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