Startup diz ter encontrado o fórmula para a alquimia (criar ouro a partir de outro metal)
A empresa Marathon Fusion está a trabalhar no desenvolvimento da energia de fusão nuclear, mas no processo parece ter encontrado uma ideia para fazer o que é conhecido por "transmutação" de metais.
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A alquimia é uma ideia milenar, que voltou a ganhar grande destaque no período medieval, e que, entre muitos objetivos, tinha a ambição de criar um método que permitisse transformar metais vulgares em ouro. Muitas centenas de anos depois, uma startup norte-americana diz ter encontrado a fórmula para a alquimia. Mais precisamente, transformar mercúrio em ouro (cuja cotação era de 3.344,45 dólares por onça na sexta-feira).
Segundo o Financial Times, a Marathon Fusion é uma empresa que está a desenvolver tecnologia para gerar energia a partir da fusão nuclear. E a startup avança que o mesmo processo pode ser usado para criar ouro, através de um método conhecido como transmutação.
Num reator de fusão nuclear são usados dois isotopos (variações do mesmo elemento químico) do hidrogénio – deutério e trítio. Quando combinados numa câmara (chamada tokamak) a temperaturas extremas (próximas às que existem no Sol), estes dois isotopos fundem-se, libertando hélio e uma grande quantidade de energia no processo.
No tokamak existem também painéis com isotopos de lítio, que quando combinados com os neutrões libertados durante o processo de fusão geram mais trítio, que depois pode ser novamente usado no processo de fusão nuclear. O que a Marathon Fusion propõe é que nos painéis do reator de fusão nuclear também seja incluído um isotopo do mercúrio, mais especificamente o mercúrio-198, que quando em contacto com os neutrões de alta energia do processo de fusão transforma-se em mercúrio-197.
E é aqui que começa a ser criado o ouro. O isotopo mercúrio-197, ao fim de 64 horas, começa a decair para o isotopo ouro-197, o único isotopo estável do metal.
Segundo Adam Rutkowski, diretor de tecnologia da Marathon Fusion, através deste método, um reator de fusão nuclear poderá produzir até 5000 quilogramas de ouro, por ano, por cada gigawatt de eletricidade gerada. E isto permitiria aumentar o valor de produção dos reatores de fusão nuclear (pois além do ouro, também produz energia que pode ser vendida).
"A principal conclusão aqui é que se pode usar este conjunto de rápidas reações com neutrões para produzir grandes quantidades de ouro", defende Rutwoski, citado pelo Financial Times.
A empresa publicou um artigo científico com a proposta, mas o mesmo ainda não foi revisto pelos pares. Mas no início deste ano, físicos da Organização Europeia para a Investigação Nuclear (CERN no acrónimo em inglês) conseguiram produzir quantidades mínimas de ouro num acelerador de partículas, mas com o "contra" de os custos da experiência terem sido elevados.
Há um "senão" no método proposto pela Marathon Fusion – o ouro gerado pode ser parcialmente radioativo e teria de ser armazenado até 18 anos para poder ser considerado de uso seguro.
"De uma perspetiva puramente cientifica, parece tudo fazer sentido. O desafio é criar a engenharia que torne isto num sistema prático", analisou Dan Brunner, conselheiro científico da startup.
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