Fitch: “Rating” da PT pode ser pressionado pelos dividendos de subsidiárias
A agência de notação financeira defende que os riscos que o negócio da PT enfrenta são médios, mas o ambiente económico e, consequentemente, o risco da República sofrer novo corte no “rating”, bem como a imprevisibilidade em relação aos dividendos que as subsidiárias pagam podem exercer pressão sobre a notação da operadora.
A agência de notação financeira Fitch publicou esta quinta-feira um relatório, intitulado "O sector das telecomunicações na Europa ocidental e uma visão geral sobre as empresas", no qual aponta que os riscos para o negócio da Portugal Telecom (PT) são médios, contudo, os riscos de crédito são relativamente elevados.
A Fitch atribui um ‘rating’ de BBB, com outlook negativo, à PT o que significa que a empresa está dois níveis acima de lixo, mas que a sua notação financeira poderá sofrer novo corte.
“Enquanto as operações fixas” em Portugal, escreve a Fitch, “da PT tiveram um desempenho resistente, as métricas de crédito estão dependentes dos dividendos” de empresas subsidiárias, como é o caso da brasileira Oi. Esses dividendos não são “previsíveis”, na opinião da agência de notação financeira. Apesar desta ressalva da agência, a Oi revelou já que mantém o objectivo de pagar um dividendo adicional referente ao exercício de 2012 de mil milhões de reais. Este objectivo foi anunciado na conferência telefónica com analistas realizada terça-feira, 19 de Fevereiro, após a apresentação dos resultados de 2012.
Assim, e em termos de riscos para as métricas de crédito, a Fitch explica – numa “radiografia” rápida - que a PT, à semelhança de outras empresas sedeadas nos países periféricos, enfrenta o facto de a austeridade ter repercussões nos gastos na área das telecomunicações.
Os riscos de crédito são maiores para “as empresas com elevado nível de alavancagem nos seus níveis de ‘rating’, incluindo empresas sedeadas nos [países] periféricos, com pouca ou nenhuma diversificação geográfica – novamente a [italiana] Wind, a [irlandesa] eircom e em parte a PT – onde os efeitos da austeridade nos gastos das telecomunicações deverão durar até 2014”, aponta a agência.
No capítulo das orientações de classificação, a agência revela que em termos positivos, para a PT, estão “as reduzidas despesas de investimento (capex) e os dividendos recebidos das empresas associadas, que permitiram à PT manter a alavancagem num nível que dá, à empresa, uma folga razoável no actual nível de rating”.
“Uma estabilização do ‘rating’ da República Portuguesa provavelmente iria conduzir a uma estabilização da notação da empresa” caso, também, “as receitas dos dividendos pagos pelas empresas associadas se mantenham nos níveis actuais”, acrescenta ainda a agência.
Por outro lado, e no capítulo dos pontos negativos de orientação, está a “pressão de um corte de rating” à dívida soberana portuguesa. Assim, no relatório pode ler-se que “com o ‘rating’ de Portugal em BB+, com outlook negativo, e dado que o negócio da PT está exposto de forma significativa à economia nacional, a empresa continua exposta à pressão de um corte de ‘rating’ do País”.
Uma redução da notação da dívida portuguesa “em dois ou três níveis iria, provavelmente, rapidamente levar a uma acção negativa na notação”, escreve a Fitch, acrescentando, contudo, que “uma quebra do rácio de dívida líquida sobre o EBITDA mais os dividendos das empresas associadas em três vezes iria, provavelmente, ter como resultado um corte de ‘rating’”.
Telecomunicações europeias
A Fitch espera que as operadoras europeias de telecomunicações “continuem a enfrentar uma pressão sobre as receitas nos mercados domésticos”.
Já no caso do móvel, a agência norte-americana aponta que este segmento vai “continuar a sofrer dos cortes nas tarifas de interconexão móveis e das fracas condições macroeconómicas”.
A Fitch considera ainda que “é pouco provável” que as empresas de telecomunicações “reduzam a alavancagem devido às necessidades de ‘cash flow’”.
No que diz respeito ao cabo, a agência, aponta que “tem gerado saudáveis ‘cash flows’” e o sector “mostrou uma migração geral para um grau de sub-investimento”. “Um movimento para um grau de investimento para o cabo não é inconcebível, ainda que seja pouco provável”, acrescenta.
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