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BVLP regista em 2000 maior queda dos últimos 10 anos
A Bolsa nacional terminou o ano de 2000, com os índices PSI20 e PSI30 a perderem 13,01% e 11,12% respectivamente, representando a maior queda dos últimos 10 anos, arrastados pelas empresas de telecomunicações e tecnologias.
O índice PSI20 e PSI30 encerraram 2000 nos 10.404 e 4.694 pontos, respectivamente, a após terem iniciado o ano nos 11.846 e 5.232 pontos. Nos Estados Unidos o Nasdaq perdia 38,2% no ano, enquanto o Euro Stoxx 50, que engloba as 50 maiores empresas europeias em termos de capitalização bolsista, caía 3,88%.
«Os índices nacionais foram arrastados pela queda das empresas de novas tecnologias, uma vez que estas representam uma parte substancial dos índices PSI20 e PSI30», explicou Eduardo Caraça do Banco Finantia ao Canal de Negócios.
As fortes perdas das empresas de telecomunicações e de tecnologia influenciaram negativamente o PSI20, dado o seu peso de 31,147% no índice PSI20, depois das entradas da PTMultimedia.com e a Sonae.com e da inclusão da PT Multimedia.
Depois de um início de ano «fulgurante», onde os índices, puxados pelas TMT atingiram valores máximos, a Bolsa nacional apresentou uma trajectória descendente, acompanhando as restantes Bolsas mundiais, que este ano seguiram bem de perto o desempenho do índice tecnológico norte-americano Nasdaq.
Em 9 de Março, o PSI20 atingia o seu máximo histórico nos 15.080 pontos, mais 45% que o valor a que fechou hoje o índice de referência da Bolsa nacional.
Em 1999, depois de um início a perder, o «bom desempenho» do mercado de capitais no final de ano permitiu ao PSI20 terminar 1999 com uma valorização de cerca de 10%.
Somague com melhor performance em 2000; Jerónimo Martins com a piorNo final deste ano destacam-se pela positiva a Somague, a Cimpor e as empresas produtoras de pasta de papel, como a Portucel e a Soporcel, enquanto o Grupo Sonae, a Soluções Automóveis Global (SAG) e a Jerónimo Martins representam as maiores perdas entre as empresas cotadas mais representativas na Bolsa nacional.
A Somague, empresa que actua no sector da construção, registou a maior valorização entre as empresas nacionais incluídas no PSI30, ao terminar o ano 74,73% acima da cotação de início do ano.
«A Somague apresentou em termos de resultados uma significativa melhoria, face aos maus resultados de 1999. A entrada de capitais espanhóis na empresa, permitiu melhorar a estrutura financeira da empresa, associado ao facto de a família deter menos de 50% do capital e o Banco Privado Português a entrar no capital da Somague, despertou o interesse de outros investidores, podendo ter contribuído para a valorização da empresa», explicou Leandro Silva, analista da Caixa Valores, ao Canal de Negócios.
A SAG encerrou o ano com uma desvalorização de 23,71%, «apesar de ter registado um bom desempenho em comparação com os restantes operadores do sector automóvel, em particular no primeiro trimestre, foi vítima da conjuntura económica , como o aumento das taxas de juro e a diminuição da confiança dos consumidores», explicou Eduardo Caraça do Banco Finantia ao Canal de Negócios.
O sector cimenteiro terminou o ano a registar valorizações, com a Cimpor e a Semapa a subirem 61,21% e 12,11% respectivamente. «A Cimpor apresenta uma história de crescimento, com franca solidez, o que suscitou o interesse de investidores e operadores do sector estrangeiros pela empresa portuguesa de cimentos. A oferta pública de aquisição lançada pela Secil e a suíça Holderbank, inicialmente a 20,5 euros (4.110 escudos) e depois elevada para 23,5 euros (4.711 escudos) por cada acção, demonstra o verdadeiro valor da Cimpor», referiu Leandro Silva ao Canal de Negócios.
A desvalorização da Sonae SGPS, «deve-se principalmente aos maus desempenhos da Modelo Continente e a Sonae.com, que recuaram 28,84% e 22% respectivamente, que representam cerca de 70% do valor da Sonae SGPS, por outro lado o aumento de capital criou alguma confusão junto dos investidores. A Modelo Continente acompanhou a tendência de desvalorização da Jerónimo Martins, enquanto a Sonae.com foi penalizada pela queda do sector das TMT"s», disse Eduardo Caraça ao Canal de Negócio.
«O sector da pasta do papel teve um comportamento bastante positivo, com a Soporcel a ser alvo de uma OPA, os valores máximos registados no preços da pasta de papel e a reestruturação do sector, levaram as empresas do sector a serem alvo de alguma especulação», explicou um analista ao Canal de Negócios.
A Soporcel subiu este ano 38,36%, enquanto a Portucel ganhou 6,15%.
Segundo Leandro Silva, «o sector bancário teve um comportamento acima do mercado, com destaque para o Banco Comercial Português, que apresentou um projecto de concentração e internacionalização bastante interessante, com aquisição do Banco Pinto & Sotto Mayor e Banco Mello».
A Jerónimo Martins apresentou a maior queda entre as empresas do PSI30, ao perder 56,69%. O mau desempenho da empresa justifica-se principalmente com «o fraco desempenho e descontrolo registado no negócio da Polónia, e ampliada pela degradação da economia daquele país, como aumento da inflação e da subida da taxa de juro», explicou Leandro Silva.
«O facto de a Jerónimo Martins ter tentado esconder os vários problemas que afectavam o negócio da Polónia, levou os investidores a penalizarem bastante a empresa de distribuição», referiu outro operador ao Canal de Negócios.
Estreantes na BVLP caem; Novabase sobe 50%Empresas como a Portugal Telecom, PT Multimedia, ParaRede e outras tecnológicas, as «grandes estrelas» do início de ano, perderam grande parte das valorizações na segunda metade de 2000. A PT Multimedia terminou mesmo o ano a perder 26,74%, registando novo mínimo histórico no último dia de negociação, nos 25 euros, ou seja, cerca de 19% da cotação máxima da empresa, atingida a 9 de Março de 2000.
O saldo para as quatro novas aderentes à Bolsa nacional também é negativo, excepto para a Novabase, que desde que foi admitida à negociação, valorizou cerca de 50%. Desde a sua estreia em Bolsa a Sonae.com desceu 22%, a PT Multimedia.com perdeu 20% e a Impresa caiu 38%.
Reflexo desta performance foi o adiamento de diversas ofertas públicas iniciais (IPO), como o da Finantel e Web-Lab, que preferiram esperar por melhores desempenhos do mercado de capitais para dispersar parte do seu capital em Bolsa.
Em baixo segue tabela com a performance das acções incluidas no PSI30:
Empresas do PSI 30 | Máximo do ano | Mínimo do ano | Variação | Última cotação |
Somague | 6,50 | 3,49 | 74,73% | 6,50 |
Cimpor | 26,62 | 15,50 | 61,21% | 26,60 |
Novabase | 15,35 | 9,53 | 50% | 12,80 |
Soporcel | 18,20 | 11,72 | 38,36% | 18,18 |
Brisa | 9,99 | 7,12 | 24,67% | 9,50 |
Efacec | 10,90 | 5,62 | 21,78% | 6,99 |
Teixeira Duarte | 1,69 | 0,95 | 15,08% | 1,17 |
Semapa | 4,47 | 3,00 | 12,11% | 3,85 |
ParaRede | 9,58 | 1,82 | 10,64% | 2,10 |
Portucel | 8,37 | 6,23 | 6,15% | 7,25 |
BCP | 5,98 | 5,10 | 2,54% | 5,65 |
EDP | 4,22 | 3,10 | 1,56% | 3,52 |
Sonae Imob. | 14,60 | 11,70 | -4,13% | 12,55 |
BES | 20,04 | 16,10 | -5,53% | 17,90 |
Banif | 10,00 | 7,00 | -6,53% | 7,01 |
PT | 16,85 | 8,83 | -10,56% | 9,74 |
BPI | 4,31 | 3,25 | -17,62% | 3,34 |
PTM.Com | 9,20 | 4,85 | -20% | 5,15 |
Sonae.com | 11,83 | 7,70 | -22% | 7,79 |
C. Amorim | 1,52 | 1,04 | -22,16% | 1,07 |
SAG | 3,06 | 2,03 | -23,71% | 2,13 |
M. Continente | 19,20 | 12,00 | -28,84% | 13,50 |
Inapa | 8,21 | 5,08 | -30,50% | 5,65 |
Telecel | 25,69 | 11,37 | -32,99% | 11,60 |
Cin | 8,72 | 3,18 | -33,50% | 3,24 |
Impresa | 12,74 | 6,44 | -38% | 6,44 |
Sonae 2000 | 2,01 | 1,16 | -38% | 1,17 |
Sonae Indústria | 9,23 | 4,65 | -41,75% | 4,66 |
Sonae SGPS | 3,02 | 1,19 | -47,74% | 1,20 |
PT Multimédia | 133,79 | 25,00 | -51,69% | 25,00 |
J. Martins | 26,10 | 9,83 | -56,69% | 11,00 |
PSI20 | 15.080,9 | 10.303,1 | -13,01% | 10.404,09 |
PSI30 | 6.619,07 | 4.649,93 | -11,12% | 4.694,32 |
Nota: Cotações em euros ajustadas de «stock splits» e aumentos de capital
Por Duarte Costa e Nuno Carregueiro