Petróleo dos EUA continua abaixo de zero após derrocada histórica
O preço dos futuros do petróleo de referência para os Estados Unidos, o chamado WTI (West Texas Intermediate) esteve esta manhã a subir 103,61% para os 1,36 dólares por barril, regressando a patamares positivos após a queda de magnitude histórica do dia de ontem. Contudo, depois da abertura da sessão europeia, já regressou a valores abaixo de zero, cotando nos -4,53 dólares pelas 8:30 (hora de Lisboa).
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O ativo iniciou a sessão asiática desta noite a valer -14 dólares por barril, o que significava que os produtores estavam a pagar 14 dólares para que os investidores abrissem espaço nos seus inventários que estão prestes a atingir o seu limite de armazenamento. A certo ponto na sessão de Wall Street de ontem, esse valor chegou a tocar nos -40 dólares por barril, enquanto que na passada sexta-feira, um barril de WTI estava avaliado em 18,27 dólares, um valor já baixo tendo em conta o histórico recente.
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Esta terça-feira marca o último dia de negociação deste contrato de futuros para entrega em maio. E o que é que isto significa? Um contrato de futuros confere ao seu detentor a obrigação de, no dia em que o prazo de negociação expirar, comprar ou vender esse ativo, ao preço previamente definido. Todos os meses, os contratos futuros do WTI, que são negociados na bolsa de Nova Iorque do CME Group, precisam de ser liquidados com a entrega física de petróleo bruto. Qualquer detentor de títulos deste ativo para entrega em maio, que não queira receber um barril de petróleo físico precisa de vender os seus títulos ou adiantar para o contrato seguinte. E esta é uma situação que acontece, por norma, sem grandes perturbações. No entanto, na passada segunda-feira foi diferente. A falta de espaço para armazenar petróleo em Cushing (Oklahoma) – onde o WTI é armazenado - desencadeou o pânico entre os produtores e investidores que detinham títulos de futuros. Aqui, à data de ontem, havia apenas espaço para mais 21 milhões de barris, que irá esgotar-se no início de maio.
Todos os meses, os contratos futuros do WTI, que são negociados na bolsa de Nova Iorque do CME Group, precisam de ser liquidados com a entrega física de petróleo bruto. Qualquer detentor de títulos deste ativo para entrega em maio, que não queira receber um barril de petróleo físico precisa de vender os seus títulos ou adiantar para o contrato seguinte. E esta é uma situação que acontece, por norma, sem grandes perturbações. No entanto, na passada segunda-feira foi diferente. A falta de espaço para armazenar petróleo em Cushing (Oklahoma) – onde o WTI é armazenado - desencadeou o pânico entre os produtores e investidores que detinham títulos de futuros.
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Agora, os analistas do Saxo consideram que só uma forte alteração nos fundamentais – como os produtores serem obrigados a parar ou haver uma melhoria significativa do lado da procura – poderá travar esta queda dos preços.
Apesar deste contrato para entrega em maio estar a negociar nestes valores, o próximo contrato de futuros para junho deste ano abriu a sessão europeia a valorizar 3,28% para os 21,10 dólares por barril. Mas foi sol de pouca dura, uma vez que agora segue já a desvalorizar 29,12% para os 14,48 dólares por barril. Os analistas olham ainda com cautela para este próximo contrato, uma vez que a situação se pode repetir, caso a procura continue em mínimos históricos.
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"O armazenamento no próximo mês continuará a ser um problema. E caso se volte a verificar uma ausência de recuperação significativa da procura, os preços negativos poderão retornar em junho", escreveram os analistas do ING, numa nota.
Brent pode ser o próximo? Apesar desta queda sem precedentes vivida pelo petróleo dos Estados Unidos, o Brent - que é a referência internacional de petróleo, incluíndo para Portugal - segue a negociar hoje em mínimos de 2002, ao cair 25,03% para os 19,17 dólares por barril. Um valor também ele curto, tendo em conta que no início deste ano cada barril de Brent chegou a valer 71,75 dólares. Ainda assim, a situação vivida pelos dois ativos não tem comparação.
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A pergunta que se impõe agora é se a situação experienciada ontem pelo WTI pode também chegar ao Brent. O impacto da atual pandemia parece não ficar por aqui e deverá estender-se até ao final do ano no mercado petrolífero. Pelo menos, é isso que acredita a Agência Internacional de Energia que prevê uma contração na procura em 2020, como um todo.
Os analistas de "commodities" do Citi alertam que "caso o armazenamento global continue a atingir limites de forma mais acelerada, o Brent pode seguir os passos do WTI", acrescentando que o petróleo norte-americano deverá manter-se volátil graças à contínua dificuldade de armazenamento nos Estados Unidos.
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Os analistas da JBC Energy acreditam que os contratos dos futuros do Brent para junho, que estão atualmente em negociação até 30 de abril, dificilmente replicam o cenário resgistado ontem no WTI, mas podem atingir também preços recordes.
A "guerra de preços" do petróleo
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Este valor negativo atingido ontem pelo crude norte-americano espelha a crise que o setor petrolífero vive. E é preciso recuar até ao dia 6 de março deste ano para perceber onde tudo começou.
Antes de o acordo elaborado pela OPEP+ (Organizadores de Países Exportadores de Petróleo e os aliados liderados pela Rússia) para um corte conjunto de produção de 1,2 milhões de barris por dia expirar, era preciso voltar a reunir para desenhar uma nova redução conjunta de produção. E foi isso que o cartel petrolífero fez no dia 6 de março deste ano. Contudo, a proposta de reforçar o corte de produção em 1,5 milhões de barris por dia, para que o corte total fosse de 3,2 milhões, foi chumbada pela Rússia. Terminava assim o entendimento de retirada conjunta de crude do mercado que vigorava desde janeiro de 2017. Significava isto que quando o acordo expirasse no final de maio deste ano, cada país poderia produzir o que quisesse. A Arábia Saudita, como beneficia de uma exploração de petróleo mais barata do que os Estados Unidos ou a Rússia, decidiu inundar o mercado com milhões de barris a um preço muito mais baixo do que o habitual.
Terminava assim o entendimento de retirada conjunta de crude do mercado que vigorava desde janeiro de 2017. Significava isto que quando o acordo expirasse no final de maio deste ano, cada país poderia produzir o que quisesse. A Arábia Saudita, como beneficia de uma exploração de petróleo mais barata do que os Estados Unidos ou a Rússia, decidiu inundar o mercado com milhões de barris a um preço muito mais baixo do que o habitual.
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