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Petrolíferas em apuros. E pressão vai continuar, mostram imagens de satélite

Atualmente, perto de 90% da capacidade mundial de armazenamento de petróleo, que é de 4,3 mil milhões de barris, está esgotada

Guarda Costeira dos EUA
28 de Abril de 2020 às 11:00

Há cada vez mais empresas do setor petrolífero – exceto as donas de superpetroleiros (na foto), agora mais procurados para armazenar crude no mar por falta de espaço em terra – em apuros, já que não conseguem operar com margens viáveis perante preços tão baixos da matéria-prima.

Nesta segunda-feira, 27 de abril, a Diamond Offshore pediu protecção contra credores nos EUA por se deparar com grandes dificuldades nas contas. A empresa de prospecção de petróleo offshore opera 15 plataformas que trabalham para a Hess, Occidental, Petrobras e BP.

A pressão dos preços do crude deverá também continuar a provocar uma vaga de suspensões de atividade, numa altura em que os produtores se debatem com um excesso de oferta e uma procura muito limitada – cenário agravado pela pandemia do novo coronavírus.

O número de plataformas petrolíferas em atividade caiu para 378 na semana passada, tendo 60 encerrado durante esse período, segundo os dados da Baker Hughes. Ou seja, menos 53% do que na mesma semana do ano passado.

Recorde-se que no início de abril também a Whiting Petroleum pediu proteção contra credores, ao abrigo da lei de falências dos EUA, tornando-se a primeira grande produtora independente de petróleo de xisto ("shale oil") a sucumbir à queda dos preços do crude.

Para que a maioria das empresas norte-americanas do "shale oil" possa continuar em atividade, os preços médios do crude de referência dos EUA – o West Texas Intermediate – têm de negociar pelo menos entre 40 e 45 dólares por barril (e hoje transaccionavam na casa dos 12 dólares) devido aos custos de extração mais caros do que no caso do petróleo convencional, sublinha a CNN.

Em contraste, o crude saudita é o mais barato de produzir, a uma média de 8,98 dólares por barril, sendo que na Rússia os custos médios de produção são de 19,21 dólares por barril.

Petrolíferas em apuros. E pressão vai continuar, mostram imagens de satélite Reuters

Uma queda que parece não ter fundo

Neste arranque de semana, os preços do "ouro negro" continuaram a cair, pressionados pelo efeito da forte queda da procura conjugado com a cada vez menor capacidade de armazenamento.

Em Cushing (Oklahoma) – onde o West Texas Intermediate (WTI), crude de referência para os Estados Unidos WTI, é armazenado – já só há espaço para cerca de 20 milhões de barris e deverá ficar esgotado em maio.

Este fator tem estado a provocar um movimento de pânico junto dos investidores, comentou recentemente à CNN Business o diretor do departamento dos mercados petrolíferos na Rystad Energy, Bjornar Tonhaugen.  

O contrato de futuros do WTI com entrega mais imediata é o de junho e expira a 19 de maio. Como a maioria dos investidores não quer ficar com petróleo físico em mãos, muitos estão já a tentar despachar os seus contratos para não acontecer a derrocada que se viu na passada segunda-feira com o contrato de maio (negociou em valores negativos), que terminava no dia seguinte.

Já o contrato de junho do Brent, referência para as importações europeias e transacionado no mercado de Londres, expira esta quinta-feira, sendo por isso que este tipo de crude esteve nesta segunda-feira a sofrer maiores perdas do que tem sido habitual nas últimas sessões.

Na semana passada, os preços do petróleo marcaram a terceira semana consecutiva de quedas, com o Brent a acumular uma desvalorização de 24% e o WTI de cerca de 7%. As cotações do crude caíram em oito das últimas nove semanas.

A The Economist recorda que foi alvo de chacota quando, em 1999, sugeriu que num mundo em que "se nadasse em petróleo" este poderia cair para 5 dólares por barril. Na década seguinte, os preços chegaram a máximos históricos em torno dos 150 dólares por barril, o que tornou o cenário aparentemente ainda mais improvável.

Mas agora a revista vem recordar os preços negativos a que o WTI negociou há uma semana. "Tal como em 1999, os analistas estão de novo a questionar-se se o mundo terá de se habituar a preços permanentemente baixos não só do petróleo mas também de outras matérias-primas", sublinha a The Economist, ilustrando da seguinte forma a vertiginosa montanha russa dos preços do crude:

Petrolíferas em apuros. E pressão vai continuar, mostram imagens de satélite

A falta de capacidade de armazenamento

Atualmente, perto de 90% da capacidade mundial de armazenamento de petróleo, que é de 4,3 mil milhões de barris, está esgotada, referia esta segunda-feira a Business Insider citando os dados da Rystad Energy. O restante espaço poderá ficar cheio nas próximas três semanas.

Por sua vez, os inventários globais de crude ascendem já a cerca de 3,2 mil milhões de barris, segundo a Orbital Insight. Trata-se de um máximo histórico.

Apesar de os cortes de produção anunciados pela OPEP+ serem históricos, constituem apenas "uma fração da queda da procura", comentou à CNBC um analista do Ursa Space Systems, Geoffrey Craig.

"O próximo catalisador será o dos stocks a atingirem os limites de capacidade. E a forma de o sabermos é através das imagens por satélite, porque não dispomos de dados disponíveis fora dos EUA", referiu o mesmo responsável.

"Temos observado as imagens de satélite de tanques de armazenamento petróleo em todo o mundo. E aquilo que vemos em termos de armazenamento bate certo com o que vemos na evolução dos preços", acrescentou Craig.

Petrolíferas em apuros. E pressão vai continuar, mostram imagens de satélite Reuters

A maioria do armazenamento de crude em terra é feita em tanques de teto flutuante (os Floating Roof Tanks – FRT, como na imagem acima). No total, a Orbital Insight diz que o espaço de armazenamento em FRTs, a nível mundial, está nos 55,6% da capacidade, pelo que a empresa estima que haja apenas cerca de mais dois mil milhões de barris de capacidade disponível.

A Ursa Space Systems, Kayrros e Orbital Insight são empresas de análise que operam com aplicações para dados de satélite, especialmente para clientes das indústrias petrolífera e gasífera.

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