Fitch revê em baixa perspetiva para Portugal
Numa decisão surpresa, a Fitch anunciou esta noite o corte da perspetiva (outlook) para a evolução da dívida de longo prazo de Portugal, de positiva para estável.
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A agência tinha agendado para o dia 22 de maio uma possível decisão sobre a classificação e outlook da República, mas decidiu antecipar-se em mais de um mês.
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Os relatórios sobre os ratings e perspectivas para as dívidas soberanas podem não ser publicados, uma vez que o calendário de eventuais revisões das notações soberanas é apenas indicativo. E também pode acontecer o que se viu hoje: se considerarem necessário, tendo em conta circunstâncias novas, as agências podem pronunciar-se fora das datas calendarizadas.
"A próxima avaliação de Portugal está agendada para 22 de maio, mas a Fitch considera que os desenvolvimentos no país justificam este desvio no calendário", refere a agência no relatório publicado esta sexta-feira, 17 de abril.
No passado dia 22 de novembro, a Fitch reiterou o rating de Portugal em BBB e manteve a perspetiva positiva. Hoje decidiu rever em baixa o outlook, mas manteve a notação do país no segundo nível acima de "lixo" (ou seja, num patamar de investimento de qualidade).
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O corte da perspetiva significa que, em princípio, não estará para breve uma nova subida da classificação soberana.
A revisão deste outlook, diz a agência no seu relatório, "reflete o impacto significativo que a pandemia global de covid-19 está a ter na economia portuguesa e na situação orçamental do país. Este choque poderá interromper as anteriores melhorias de tendência ao nível do crescimento económico, do rácio da dívida pública face ao PIB e da resiliência do setor bancário".
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"A economia de Portugal, de pequena dimensão e aberta, com a sua elevada dependência do turismo, está exposta a riscos negativos decorrentes da gravidade da pandemia, especialmente se o ‘lockdown’ do país persistir além do que está previsto no cenário de base da Fitch", sublinha.
A Fitch estima atualmente que a economia de Portugal irá registar uma contração de 3,9% em 2020 (uma revisão em baixa de 5,6 pontos percentuais face ao que projectava no seu relatório de novembro do ano passado).
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"Desde 18 de março de 2020, entrou em vigor o estado de emergência nacional, que encerrou todas as atividades não essenciais e estabelecimentos de ensino e que levou a restrições nas fronteiras. Os serviços e indústrias relacionados com o setor do turismo serão os mais duramente penalizados", realça a agência na sua análise.
A Fitch recorda que o contributo geral do turismo para o PIB e para o emprego "estão em cerca de 16,5% e 18,6%, respetivamente, de acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo". "Prevemos uma forte contração no segundo trimestre de 2020, antes de uma retoma gradual da atividade na segunda metade do ano e em 2021, isto com base no nosso cenário de que as medidas de ‘lockdown’ serão flexibilizadas em finais de segundo trimestre".
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Segunda onda de covid-19 pode deteriorar mais o cenário
"Existem riscos negativos concretos nas nossas previsões, atendendo à incerteza quanto à dimensão e duração do surto do coronavírus", adverte ainda.
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"Uma segunda onda de infeções, um período de confinamento mais longo e/ou uma deterioração da crise sanitária noutros países eurpopeus levaria a quedas no PIB muito mais acentuadas em 2020 e, potencialmente, a uma débil recuperação em 2021. Um tal cenário exacerbaria os negativos contágios ao mercado laboral, setor bancário e finanças públicas", diz o relatório da Fitch.
A agência estima que Portugal registe um défice de 4% do PIB este ano, depois de em 2019 ter conseguido um excedente orçamental (o primeiro da democracia portuguesa) de 0,2% – valor confirmado pelo Instituto Nacional de Estatística no passado dia 25 de março.
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Por seu lado, a dívida deve aumentar para 124,9% do PIB em 2020, contra 117,7% no ano passado, interrompendo assim o histórico recente de queda do rácio de endividamento – que se alicerçou nos excedentes orçamentais primários e na redução dos custos com os juros.
Banca: qualidade dos ativos sustentada no curto prazo
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O setor financeiro é também alvo de advertência. A Fitch considera que a banca está mais resiliente do que entre 2011 e 2014, mas alerta que os riscos de deterioração do contexto operacional do setor aumentaram devido à pandemia.
As medidas de apoio anunciadas pelo Governo português (sobretudo no que diz respeito à moratória da dívida pela banca sobre os juros e reembolsos durante pelo menos seis meses), aliadas ao apoio a nível europeu, vão sustentar a qualidade dos ativos da banca no curto prazo e, em menor medida, a geração de receitas, sublinha a agência.
"No entanto, uma crise mais longa do que o esperado irá ameaçar a viabilidade do setor", remata.
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Os restantes ratings
Na Standard & Poor’s, recorde-se, o rating de Portugal está no mesmo nível que o da Fitch – só a canadiana DBRS coloca a notação portuguesa no terceiro nível acima de "junk".
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A Moody’s é a agência que atribui a classificação mais baixa, de Baa3, que é o último grau do patamar de investimento de qualidade.
Muitos países têm visto os seus ratings e outlooks serem revistos em baixa pelas agências de rating devido ao impacto económico da pandemia de covid-19. Hoje, por exemplo, a DBRS cortou a perspetiva de França para negativa.
Quando vai haver mais análises este ano?
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Moody’s
Baa3 com "outlook" positivo;
• 17 de julho
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S&P
BBB com outlook positivo;
• 11 de setembro
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DBRS
BBB Alto com "outlook" estável;
• 18 de setembro
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Fitch
BBB com "outlook" positivo;
• 22 de maio (poderá ou não pronunciar-se, já que o fez hoje)
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• 20 de novembro
(notícia atualizada às 23:02)
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