Alemanha já tem de pagar para emitir dívida de longo prazo
Os investidores estão a reduzir a aposta nas obrigações devido à perspetiva de recuperação económica forte e subida da inflação.
Quando um governo ou empresa emite dívida, o normal é que compense os investidores que compram os títulos. Mas nos últimos anos o mercado de dívida, sobretudo soberana, tem sido tudo menos normal, sendo que muitos países estão a emitir dívida com taxas negativas. Ou seja, são os investidores que pagam para financiar os países, mesmo nos prazos muito longos.
A Alemanha tem sido o expoente máximo desta tendência nunca antes vista nos mercados financeiros, conseguindo ao longo dos últimos meses financiar-se a taxas negativas em todas as maturidades.
Mas hoje tal já não aconteceu, o que poderá representar um sinal do início da inversão desta tendência.
A Alemanha esteve esta quarta-feira no mercado a emitir 1,25 mil milhões de euros em dívida a 30 anos e os títulos foram colocados com uma yield de 0,1%. A maior economia europeia teve assim de pagar para emitir dívida, o que já não acontecia desde março do ano passado. No leilão comparável de janeiro a taxa foi de -0,14%.
Além disso a procura foi a mais baixa em quase um ano, o que sinaliza o fraco apetite dos investidores por obrigações soberanas numa altura em que a reflação (crescimento económico e alta da inflação) beneficia ativos de maior risco, como as ações e matérias-primas.
A evolução no mercado secundário já apontava para uma taxa positiva na emissão de hoje, uma vez que a yield das bunds a 30 anos está a caminho de registar em fevereiro o maior agravamento desde 2016.
Nas maturidades menos longas as obrigações alemãs persistem em terreno negativo. No prazo de referência a 10 anos a "yield" está esta quarta-feira em -0,35%, ainda assim bem distante do mínimo histórico inferior a -0,6% atingido no mês passado.
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