Há mais risco de inflação subir e emprego cair. Powell admite "ajuste" nos juros
A expectativa do mercado é que o banco central dos Estados Unidos corte as suas taxas de referência em setembro. O presidente Jerome Powell admitiu a possibilidade de um "ajuste", em Jackson Hole.
Poderá ter chegado o momento de fazer mudanças às taxas de juros nos Estados Unidos. É esta a expectativa dos mercados financeiros (e a exigência que tem vindo a ser feita pelo Presidente Donald Trump) e, no seu discurso em Jackson Hole, o presidente da Reserva Federal (Fed) norte-americana admitiu a possibilidade de um "ajuste".
"No curto prazo, os riscos para a inflação estão inclinados para cima e os riscos para o emprego para baixo — uma situação desafiante", afirmou Powell, lembrando que o mandato duplo da Fed prende-se com a estabilidade dos preços e o pleno emprego. "Quando os nossos objetivos estão em conflito, a nossa estrutura exige que equilibremos os dois lados do nosso duplo mandato", disse.
Powell sublinhou que a política monetária está agora 100 pontos-base mais próxima da neutralidade do que estava há um ano, graças aos três cortes levados a cabo em 2024. E indicou que a estabilidade da taxa de desemprego e de outras medidas do mercado de trabalho permitem ao banco central "proceder com cautela" ao considerar mudanças. "No entanto, com a política em território restritivo, a perspetiva de base e o equilíbrio variável dos riscos podem justificar um ajuste na nossa postura política".
Antes do discurso, o mercado de "swaps" atribuiu uma probabilidade em torno de 75% de um corte de 25 pontos-base nos juros de referência dos EUA, que se situam atualmente num intervalo entre 4,25% e 4,5%. Logo a seguir a ouvir Powell, os investidores reforçaram as expectativas (para cerca de 90%), levando o Dow Jones a subir 1,6% para o recorde de 45.512,25 pontos (o S&P 500 ganha 1,2% e o Nasdaq 1,3%). O dólar perde força, tal como a "yield" das Treasuries.
Este reforço representa uma inversão face ao refrear de expectativas dos investidores em relação a um corte de juros depois de a inflação ter dado, em julho, o maior salto desde março de 2022. "Os efeitos das tarifas sobre os preços no consumidor são agora claramente visíveis", avisa Powell. "Esperamos que estes efeitos se acumulem nos próximos meses, com grande incerteza quanto ao momento e aos valores".
"A questão que importa para a política monetária é se é provável que estes aumentos de preços agravem materialmente o risco de um problema de inflação persistente. Um cenário base razoável é que os efeitos sejam relativamente curtos — uma alteração única no nível de preços. É claro que "única" não significa "uma só vez". Continuará a ser necessário tempo para que os aumentos das tarifas se propaguem pelas cadeias de abastecimento e redes de distribuição. Além disso, as tarifas continuam a evoluir, prolongando potencialmente o processo de ajustamento", avisou ainda.
Os comentários de Powell abrem a porta a um corte das taxas de juro na reunião da Fed de 16 e 17 de setembro, mas também dão maior peso aos relatórios de emprego e inflação que serão recebidos antes do encontro. O próximo relatório mensal de emprego será divulgado a 5 de setembro e os dados sobre os preços no consumidor e no produtor na semana seguinte.
“Embora o mercado de trabalho pareça estar em equilíbrio, trata-se de um equilíbrio curioso, resultante de uma desaceleração acentuada tanto na oferta como na procura de trabalhadores. Esta situação invulgar sugere que os riscos de queda do emprego estão a aumentar. E, se estes riscos se materializarem, poderão ocorrer rapidamente”, alertou ainda perante uma plateia de economistas e decisores políticos internacionais na conferência anual da Fed no Wyoming.
(Notícia atualizada às 15:35)
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