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Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

A inovação está nas empresas

“Tudo o que tem a ver com contratação pública ao nível da União Europeia é um entrave brutal à inovação, principalmente na área da defesa”, defendeu Rui Lopo, da Tekever.

17 de Outubro de 2025 às 14:00
No debate “Novo paradigma para uma Europa mais industrial, competitiva e sustentável” destacou-se o papel da inovação, o impacto da desglobalização e os entraves europeus à competitividade.
No debate “Novo paradigma para uma Europa mais industrial, competitiva e sustentável” destacou-se o papel da inovação, o impacto da desglobalização e os entraves europeus à competitividade. Sérgio Lemos
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No debate “Novo paradigma para uma Europa mais industrial, competitiva e sustentável” destacou-se o papel da inovação, o impacto da desglobalização e os entraves europeus à competitividade.

“A inovação é um radical da economia. Se não investirmos na inovação, nada vai acontecer. Não existe produtividade, eficiência, sustentabilidade, exportações, internacionalização, porque tudo deriva de um investimento em inovação”, defendeu João Nuno Palma, Vice-presidente do Millennium BCP, durante o painel “Novo paradigma para uma Europa mais industrial, competitiva e sustentável”, nas Millennium Talks Cotec Innovation Summit, que se realizou em Lisboa.

“A inovação está nas empresas e as empresas alimentam-se para a inovação dos doutorados que as universidades produzem. Somos o maior empregador privado de doutorados em Portugal, tanto nacionais como do mundo inteiro”, disse António Nunes de Almeida, Chief Financial Officer da Hovione. Mas não é suficiente ter mão de obra qualificada, é preciso financiar a inovação. Salientou que as empresas europeias não têm a mesma capacidade de criar escala, ao contrário das empresas americanas, que crescem e escalam a uma velocidade totalmente diferente das empresas na Europa. João Nuno Palma revelou que a Europa investiu 2,3% em investigação e desenvolvimento, mas a meta era 3%, enquanto os Estados Unidos têm investido 3,4%. Defendeu que as empresas precisam de “estar integradas em ecossistemas de inovação” e que a banca deve ir “para além da banca para dar um melhor serviço”, oferecendo conteúdo e conhecimento personalizados por indústria.

A desregulação da inovação militar

A Tekever foi fundada em 2001 e o seu negócio “é informação, intelligence, ou seja, já trabalhava e continua a trabalhar em entregar informação em contextos de vigilância para garantir segurança”, afirmou Rui Lopo, diretor da Europa Sul da Tekever. Revelou que o grande ponto de viragem da empresa foi “em 2022, com a invasão da Ucrânia”. “Já trabalhávamos em modo ágil, principalmente na área do software, e o que fizemos foi trabalhar de modo ágil no hardware, com uma ligação muito próxima a todas as unidades que, no fundo, estavam no terreno a usar os nossos sistemas”, explicou Rui Lopo. Trabalham em “ciclos quinzenais de receção de feedback, criar novas listas de requisitos, mandar novos sistemas já com estes requisitos incorporados”, um ritmo impossível na indústria tradicional de defesa, onde “as pessoas nos falam de ciclos de anos, de meses, de R&D”.

A inovação é um radical da economia. Se não investirmos na inovação, nada vai acontecer. João Nuno Palma, Vice-presidente do Millennium BCPra de marketing do grupo Vila Galé.

O Reino Unido tornou-se o maior mercado porque estes “perceberam que, do ponto de vista militar, a inovação vem muito mais do lado das empresas”. Deu o exemplo de um programa desenvolvido, em quatro meses, em conjunto com a Royal Air Force que, ao nível dos grandes incumbentes da defesa, seria um programa para custar milhares de milhões e demoraria três anos a desenvolver, criticando duramente a Europa. “Tudo o que tem a ver com contratação pública ao nível da União Europeia é um entrave brutal à inovação, principalmente na área da defesa.”

O desafio da desglobalização

“Estamos a assistir a um movimento em que estamos na desglobalização e, por isso, todos estes fenómenos, como as tarifas, são pequenos passos no que é um movimento de desglobalização. Vamos ter a América para a América, a Europa para a Europa e a Ásia para a Ásia”, e “a competitividade de cada continente vai tornar-se mais relevante”, afirmou António Nunes de Almeida. Para esta mudança estrutural, a Hovione, multinacional farmacêutica portuguesa, está preparada. Tem uma rede de produção com presença em Portugal, Irlanda, Estados Unidos e Macau, está mais preparada. Esta rede de produção permite aos clientes “escolherem onde é que querem produzir”, tendo em conta as características da sua supply chain, e minimizar o impacto das tarifas.

“No contexto de mercado com volatilidade há oportunidades de negócio, e gerimos risco, não evitamos risco”, afirmou Maria João Carioca, co-CEO da Galp, empresa que, além da Ibéria, está na produção energética no Brasil, Namíbia e Moçambique. Para esta empresa, a internacionalização e diversificação geográfica permitem desenvolver os negócios conforme as vantagens competitivas mais relevantes de cada geografia. Em Sines, a Galp tem um dos maiores investimentos industriais em Portugal, no valor de 650 milhões de euros. Este investimento em hidrogénio não é considerado um investimento verde porque a taxonomia é complexa e incerta, embora seja “um investimento que vai retirar carbono da atmosfera, equivalente à remoção de 700 mil carros de Portugal”, disse Maria João Carioca. Defendeu uma abordagem pragmática em relação à transição energética. “Temos de pugnar por ter, da parte da Europa, uma política de transição que seja consistente e pragmática”. Recordou que “a Europa perdeu um ano inteiro de PIB na crise do gás, um ano inteiro do continente mais rico do mundo, e que é preciso recuperar”, concluiu Maria João Carioca.

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