Fernando Sobral fsobral@negocios.pt 25 de Outubro de 2010 às 11:50

O ocaso do Benfica

Contra o Lyon, o Benfica não existiu. Não chutou uma vez à baliza.

Não marcou um único golo. Na realidade, não jogou. Em Lyon, o Benfica enterrou a memória da última temporada em que dava prazer ver jogar. Onde os jogadores, alegres, criavam e marcavam golos. Sobretudo faziam com que o futebol se tornasse um espectáculo. Mas, em Lyon, o Benfica tornou-se uma turma dos repetentes. Já se tinha visto este Benfica há alguns anos: amorfo, sem chama, sem crença. Há muitos anos, o sr. Malcolm Allison, agora falecido, foi despedido de um clube porque se deixou dormir no banco durante um desafio. Confrontado com o sucedido, ele argumentou que a equipa estava a jogar tão mal que a soneca fora um milagre para os seus olhos. Se tivesse visto o Benfica em Lyon, o sr. Allison teria voltado a fazer uma soneca. No jogo, só o sr. Jorge Jesus não dormiu e, para além disso, ainda conseguiu ver que só após a expulsão do sr. Gaitán é que os encarnados se foram abaixo. Errado: não houve Benfica nem antes nem depois da expulsão do sr. Gaitán.

O que é que se passa então neste Benfica que há poucos meses o sr. Jesus julgava poder vir a lutar pelo título na Liga dos Campeões? As saídas do sr. Di Maria e do sr. Ramires explicam algo, mas não tudo. Sobretudo não explicam a razão porque a política de compras para ultrapassar o drama das saídas foi completamente errada. O sr. Gaitán vai precisar de tempo para se adaptar. O sr. Kardec é um bom avançado, mas ainda não faz esquecer o sr. Cardozo quando este marca golos. O sr. Fábio Faria é uma incógnita. O resto, uma desilusão. Com o dinheiro encaixado com as saídas o Benfica deveria ter ido buscar jogadores para posições específicas: um extremo e um médio que defende e ataca. Não o fez. Voltou à política de tantos anos em que esbanjou milhões de euros, comprando por atacado.

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Um dos problemas do Benfica esta época, e as críticas têm de chegar aos ouvidos do sr. Luís Filipe Vieira que colocou o sr. Rui Costa na sombra, é que voltou a fazer de aristocrata rico. Comprou para mostrar que tinha dinheiro. Não adquiriu com inteligência. O Benfica voltou ao caos a nível do futebol. O desastre só não é maior porque tem um plantel com muita qualidade, que esconde o desvario.

Há depois o sr. Jorge Jesus. Bom treinador, tem um problema: fala demais. E sobretudo fala quando não tem arcaboiço para o fazer. Há treinadores que, sendo bons tacticamente, são bons teóricos. Estudaram quando perceberam que o nível a que estavam a chegar requeria outro trato com a língua. O discurso do sr. Jesus deve cair bem junto dos jogadores. Mas escuta-se aos soluços junto de quem gosta de futebol. Após a vitória do ano passado, o sr. Jorge Jesus também deveria ter feito um "upgrading" do seu dicionário.

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