A nova (des)ordem mundial
Este resultado eleitoral marca um novo momento do potencial isolacionismo norte-americano que, paradoxalmente, tem enormes repercussões para lá da zona do epicentro. Com este cenário, a incerteza sobre o futuro das organizações e dos tratados internacionais gera um ambiente de imprevisibilidade na resolução dos atuais e futuros conflitos.
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Setenta e seis dias. Este é o tempo necessário para que o movimento tectónico do quadro geopolítico mundial se ajuste à realidade que se avizinha. É o hiato temporal que decorre desde o momento das eleições norte-americanas até à investidura de Trump. Muita coisa pode e deve acontecer neste período face às variadíssimas crises que se desenrolam atualmente pelo mundo. A verdade é que o multilateralismo nunca esteve tão ameaçado como agora, nem tão pouco a ordem global liberal dominada pelas democracias ocidentais. Assistimos serenamente ao desmoronar das profecias enunciadas por Francis Fukuyama no seu famoso artigo “O fim da história?”, publicado na revista The National Interest em 1989, em que tudo parecia indicar que, após o declínio da União Soviética, haveria um caminho duradouro, e sem retorno, para uma nova ordem global, em que a difusão das democracias liberais e da globalização do capitalismo assinalavam o fim da nossa evolução sociocultural. Quão errado estava! As geometrias complexas das relações internacionais desenhadas nos últimos anos, galvanizadas por conflitos armados em que o recrutamento de meios humanos já está no domínio da globalização, apelam a uma política mais conservadora e isolacionista dos atores internacionais.
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