Descarbonizar o transporte marítimo: entre a urgência e a inércia
O futuro do transporte marítimo depende da capacidade de alinhar três fatores; vontade política, inovação tecnológica e mobilização de capitais. O setor não pode esperar indefinidamente pela solução perfeita.
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Considerado como um dos principais indicadores da economia mundial, o setor do transporte marítimo é a espinha dorsal da globalização, com uma fatia de mais de 80% do comércio mundial. Esta capacidade logística, porém, tem um custo ambiental elevado. Apesar de ser, em média, menos poluente por tonelada transportada do que o transporte rodoviário ou aéreo, a dimensão colossal do setor faz dele um dos maiores emissores globais de gases com efeito de estufa. Representa cerca de 3% das emissões mundiais de CO2, mais do que países inteiros, como a Alemanha, de acordo com a Organização Marítima Internacional (IMO). A descarbonização neste setor não é, por isso, apenas uma questão ambiental, mas um imperativo económico e reputacional para manter a competitividade no comércio internacional rumo à sustentabilidade ambiental. É neste contexto que a IMO aprovou, em 2023, uma meta de emissões líquidas zero até 2050. É um passo relevante, mas especialistas sublinham que o calendário é tímido face à urgência climática. O desafio é estrutural, dada a longa vida operacional destes meios de transporte. Um navio permanece em operação, em média, entre 25 e 30 anos, podendo, as embarcações que hoje iniciam atividade, continuar a navegar até meados da década de 2050, precisamente o horizonte temporal definido para a concretização dos objetivos climáticos globais. Isto significa que o setor tem de agir desde já, sob pena de comprometer o cumprimento da meta de neutralidade carbónica.
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