Escrutinamos pouco, exigimos de menos
O debate orçamental cruzou-se esta semana com ajustes de contas com um passado muito recente. Depois de ter criticado o Presidente da República, Cavaco Silva aproveitou as memórias para chamar "artista" a António Costa. A "geringonça" ficou-lhe atravessada…
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memórias. São sempre selectivas, mesmo quando parecem exaustivas, como são as de Aníbal Cavaco Silva. O segundo volume das suas memórias presidenciais - "Quinta-feira e Outros Dias - Da Coligação à 'Geringonça'" (Porto Editora) - é um implacável ajuste de contas com alguns dos seus interlocutores políticos, como são os casos de António Costa ou de Paulo Portas. Cavaco tem uns cadernos azuis em que faz registos "na hora". O livro recupera esses registos do dia-a-dia. Boa parte das vezes, são secos e burocráticos, mas há muitas considerações sobre o seu entendimento dos factos e juízos muito críticos sobre decisões e atitudes de primeiros-ministros e de dirigentes partidários. A publicação de memórias é um exercício louvável, pois é uma prestação de contas e um contributo para o esclarecimento da nossa história política. Saúde-se a frontalidade de Cavaco Silva, a contrastar com a secura e a contenção de boa parte do seu exercício presidencial. Menos louváveis são as invectivas dirigidas a titulares de órgãos de soberania, a arrogância com que se coloca na história das últimas décadas e a incapacidade confessada de conseguir compromissos.
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