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Bruno Faria Lopes - Jornalista da revista Sábado brunolopes@sabado.cofina.pt
31 de Maio de 2018 às 20:40

A crise em Itália e a política portuguesa

Os sinais de que a maré externa pode ficar mais picada são um factor de pressão sobre a política orçamental do Governo – e sobre a política futura de alianças do PS.

Por esta altura, depois de anos de formação intensiva em crises europeias, devemos ser capazes de compreender que novas eleições em Itália não são necessariamente um referendo ao euro no país. Uma coisa é o que os políticos dizem para chegar ao poder, outra é o que fazem no poder. Vimos isso com exuberância na Grécia e, numa escala diferente, em Portugal. E apesar de apenas 45% dos italianos considerarem que o euro é uma coisa boa para o seu país, a segunda taxa mais baixa de aprovação, o medo da ruptura fala sempre alto - sobretudo num país cuja enorme dívida soberana está concentrada em mãos domésticas. Mais do que as vantagens de ficar é o medo de sair o maior seguro da moeda única.

Isto não quer dizer, contudo, que a situação em Itália seja inócua para a Europa e para Portugal. Mesmo que não acreditemos que haja um risco grande de saída do euro a curto/médio prazo, interessa perceber o que a subida do risco político no maior mercado de dívida soberana na Zona Euro faz ao "espírito dos animais" nos mercados. E o impacto existe. Lendo a imprensa de referência para a comunidade financeira percebe-se o festival à volta da situação italiana e das fragilidades do euro. Este festival será tanto maior quanto mais se arrastar a crise (à data em que escrevo estas linhas a situação é muito fluída, não sendo seguro se haverá um governo de coligação entre populistas e a direita nacionalista ou se o país vai para novas eleições).

O risco italiano não é o único a pairar após um longo período de acalmia induzido por uma política monetária histórica, que os bancos centrais executaram no pós-crise. Este ano começou com uma correcção repentinamente assustadora nas bolsas, tendo como pano de fundo o início do ciclo de subida dos juros pela Reserva Federal americana. Depois veio uma onda de medo sobre os mercados emergentes. Agora, Itália e o euro. A narrativa nos media como a Bloomberg ou o The Wall Street Journal gira cada vez mais à volta destes pequenos tremores de terra nos mercados e em saber quando vem o próximo grande terramoto. Narrativas deste tipo entram na formação das percepções, auto-alimentam-se.

Portugal é visto como um país que está financiado para a maior parte do ano, com um Governo pró-europeu estável, uma economia a crescer 2% e um rácio de dívida pública a começar a descer. Não está mal. Mas ainda assim foi notório nos juros da República - mais do que em Espanha que está em crise política - o efeito de contágio de Itália. Para o Governo de um país com dívida alta isto é um aviso que aumenta a pressão para ter de novo bons resultados nas finanças públicas e na economia. Para o partido que governa e que lidera destacado nas sondagens, o PS, sinaliza que a maré externa pode tornar-se mais picada nos próximos tempos. Não admira, pois, que António Costa não queira abrir o jogo tão cedo sobre a política de alianças. A pressão financeira e económica externa é um factor crucial para perceber como se vai posicionar o partido antes das eleições - e para onde se vai virar se vencer sem maioria absoluta.

Jornalista da revista Sábado

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