Carlos Vieira cfvieira@ensinus.pt 09 de Setembro de 2013 às 00:01

Finito

Outras ideias passariam por reduzir adicionalmente a TSU paga para as empresas que tenham os seus colaboradores a frequentar cursos de formação e conducentes a grau académico, criando um estímulo global à qualificação (quiçá até com possibilidade de financiamento via Fundo Social Europeu)

Na sequência das leituras de Verão, já referidas na minha crónica anterior, embrenhei-me no livro de Tim Jackson, "Prosperidade sem crescimento – Economia para um Planeta Finito", que de uma forma por vezes excessivamente militante, mas elegante, reforça a necessidade de assumirmos que o Planeta não permite que se assuma que o aumento da riqueza tem de passar pelo contínuo desejo de ver crescer o PIB em função da forma como a equação do mesmo é construída. Neste sentido, o autor reforça a necessidade de uma revisão das fórmulas que indiciam a riqueza das nações, incluindo referenciais como a felicidade, dado que sendo o Planeta finito e existindo um crescimento baseado nos recursos naturais existem óbvias limitações físicas e externalidades negativas que conduzem a uma perda de qualidade de vida.

O livro em questão está muito bem construído e acaba referindo a importância dada à produtividade do fator trabalho como estando a ser decisiva na atualidade para se melhorar os rácios de valor acrescentado. No entanto, a análise conduz a uma indicação de que esta obsessão tem vindo a conduzir a uma redução das remunerações (ainda na semana passada referida num estudo da Mercer) e a um aumento do desemprego. E continua, referindo a necessidade de se registar nas contas públicas o trabalho de muitos voluntários que, por exemplo, trabalham no terceiro sector que, por vicissitudes da referida equação do PIB, pouco ou nada contribuem para a sua valorização.

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Nesta leitura, recordei-me de um artigo da Economist1 do passado mês de Junho que indicava as razões para o atual sucesso da Alemanha e que estão consubstanciados num conjunto de alterações muito semelhantes às constantes na panaceia que a Troika impôs em Portugal e que fizeram aquele país passar de um doente a um jovem pujante. Bem, e o que faz falta por cá? Trabalho! A grande questão passa por uma estrutura económica que obviamente conduza ao estabelecimento de empresas, passando por investimento privado e público. Mas no imediato, como estancar esta perda de emprego? Pois bem, no referido artigo a solução na Alemanha passou por muita criação de trabalho criando incentivos à contratação de pessoas com remunerações mais baixas, por via do trabalho a tempo parcial (seja de estudantes, de pais que decidam acompanhar mais os seus filhos ou trabalhadores mais velhos que se "semi-aposentem"). Assim, porque não fazer adaptação à nossa realidade com a redução da famosa TSU para as remunerações abaixo do salário mínimo (conduzindo até talvez à pressão por parte dos gestores das empresas em fazer subir o mesmo)? Isto teria obviamente de ser negociado face ao impacto geral que esta situação teria em termos de receitas.

Outras ideias passariam por reduzir adicionalmente a TSU paga para as empresas que tenham os seus colaboradores a frequentar cursos de formação e conducentes a grau académico, criando um estímulo global à qualificação (quiçá até com possibilidade de financiamento via Fundo Social Europeu). Ou também de permitir que estrangeiros com visto de estudante possam trabalhar um determinado número de horas. E assim, com trabalho e desenvolvimento pessoal aumentar o nível de "felicidade" dos cidadãos.

Por fim, uma referência ao efeito que a crise tem sobre as mulheres, e que alguns dos fatores atrás referidos poderiam ajudar a mitigar o nível da carga de trabalho sobre elas exigida. Isto porque para além do seu emprego se veem envolvidas com um aumento do trabalho "extra" em casa, como identifica um trabalho da investigadora Sara Casaca2 . E numa altura em que esta situação se agrava assiste-se, infelizmente, à não utilização das verbas que o Eixo 7 do POPH, relativo à Igualdade de Género e ao seu desvio para outras tipologias. Uma maior equidade na parentalidade e a possibilidade de facilmente se chegar a acordos de redução dos horários de trabalho, estimuladas pelos benefícios fiscais atrás referidos poderiam criar um ciclo virtuoso. E a um maior PIB, numa versão mais feliz!

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1)http://www.economist.com/news/special-report/21579145-ingredients-german-economic-success-are-more-complex-they-seem-dissecting

2)http://www.eurofound.europa.eu/ewco/2013/02/PT1302039I.htm

Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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