É fácil compreender que, apesar de a inflação estar a abrandar, os efeitos sobre o rendimento são bem mais permanentes e teimam em não se dissolver!
Não está em causa a justiça da progressividade dos impostos. O tema é antes se tal ocorrência em níveis tão baixos de rendimento não tem efeitos perniciosos, como os que se observam sobre a crescente emigração de jovens qualificados que, para além de auferirem rendimentos mais elevados no estrangeiro beneficiam de regimes tributários mais favoráveis.
A receita tributária é gerida taticamente. A diversidade de impostos e de taxas é parente próximo das estratégias comerciais das empresas privadas, que diferenciam o produto e o seu preço, para extrair o máximo de valor da sua procura cativa.
As políticas monetárias restritivas em curso não fazem mais que retirar o excesso de fichas da economia.
É na taxa de juro que os efeitos são mais devastadores para as famílias, especialmente para quem contraiu empréstimos e se vê confrontado com prestações mensais que teimam em crescer exponencialmente por cada variação de ponto percentual nas taxas.
O tema da equidade social é distinto e só tangencialmente se relaciona com os mercados: por via do poder conferido a cada um para pronunciar as suas vontades e as suas escolhas, ou seja, participar livremente nos mercados.
Na procura de culpados pela escalada de preços, a especulação surge como justificação prioritária.
Quando as fragilidades sociais latentes e a preocupação com convulsões dominam o sentido das decisões governamentais, a resposta parece acalmar os espíritos, porque propõe uma redistribuição mais equitativa.
É fingir não ver as razões de fundo que subjazem à onda, como a procura de condições de vida e de trabalho mais condicentes com a qualificação profissional dos indivíduos, denunciando também a exiguidade do conjunto de oportunidades do país em que nasceram.
Contrariamente ao que é usual pensar-se, os preços não são os únicos, nem os mais importantes, disciplinadores do comportamento empresarial.
Queixam-se os presidentes de Câmara que os recursos são insuficientes e que, por isso, poderemos assistir a uma deterioração das condições de ensino.