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Joaquim Aguiar
10 de Março de 2021 às 20:51

Poder e política

O poder aritmético que se forma por adição e subtracção de votos parlamentares é um poder sem política, é uma sucessão de oportunismos, sem estratégia, sem crescimento económico e sem justiça social.

É natural que os partidos procurem conquistar o poder. Mas o poder político é um poder muito especial, singular, que tem como objectivo e como fundamento para a sua legitimação a orientação da sociedade na construção do seu futuro, a resolução da conflitualidade que se manifesta no confronto dos interesses sociais e a formulação de programas estratégicos que assegurem o crescimento da economia de modo a poderem financiar as políticas públicas que promovam o crescimento dos rendimentos do trabalho (salários) e do capital (juros e lucros), assim como os rendimentos do Estado com que se alimentam os dispositivos orçamentais das políticas de investimentos públicos e de transferências que concretizam as finalidades das políticas de justiça social.

O poder político não se confunde com o poder patrimonial, que se pode acumular sem que os seus detentores tenham de responder pela qualidade e pela utilidade social da sua aplicação. A legitimidade do poder político é função dos resultados obtidos na orientação da sociedade, da sua capacidade para promover o crescimento económico e para atingir os objectivos de justiça social, mas também da sua eficácia na resolução da conflitualidade na sociedade, para que esta não se polarize em contexto de guerra civil.

Há, no entanto, modos de conquista do poder que distorcem de tal modo o poder político assim obtido que tornam impossível exercer esse poder político respeitando o objectivo e o fundamento da sua legitimação. É o que acontece quando o poder é conquistado pela via aritmética da adição e subtracção de votos dos grupos parlamentares e não pela via da convergência de programas e de estratégias. Formam-se maiorias de conveniência para suportar governos minoritários que executam políticas oscilantes em função dessas maiorias de oportunidade, ou formam-se coligações de circunstância só para evitar que sejam outros que conquistam o poder.

O poder aritmético que se forma por adição e subtracção de votos parlamentares é um poder sem política, é uma sucessão de oportunismos, sem estratégia, sem crescimento económico e sem justiça social, tendo de recorrer à hipoteca do futuro através do endividamento para encobrir a sua incapacidade para construir e concretizar uma estratégia para o futuro, que é a condição de legitimação do poder político.

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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