Autonomia estratégica a 27
Esta é uma crise de descontinuidade, que destrói o que vem do passado e deixa o futuro como um horizonte de incerteza radical: a realidade efectiva das coisas indica que não se sabe o que esse futuro vai ser e vai exigir.
A FRASE...
"O último Conselho Europeu terminou como começou. Sem qualquer solução à vista."
Teresa de Sousa, Público, 28 de Março de 2021
A ANÁLISE...
É nas crises que as instituições políticas são postas à prova, e se não produzem as respostas adequadas, terão de ser substituídas ou, pelo menos, reformuladas nas suas competências ou nos seus processos de decisão. A história da União Europeia, desde a Comunidade Económica Europeia e a moeda única, depois da reunificação da Alemanha e a assinatura do Tratado de Maastricht, até à configuração actual, que tem de enfrentar uma crise sanitária e uma crise económica que atingem uma escala inédita num contexto global que se caracteriza pela crise do padrão de ordem mundial e pela disputa pelo estatuto de potência hegemónica, tem sido directamente influenciada pela qualidade da resposta que se estrutura para absorver os desequilíbrios criados por essas crises.
A crise actual não é comparável com as crises do passado, nem na sua intensidade, nem no enquadramento em que se desenvolve quando a estrutura de ordem mundial já não funciona como referenciadora dos comportamentos dos responsáveis políticos. É agora real o risco de as instituições responsáveis pela formação da decisão na União Europeia não terem a rapidez de acção e o suporte firme das sociedades dos seus Estados-membros para poderem responder às exigências da crise sem provocarem a fragmentação da União e a proliferação de conflitos políticos no interior das diversas sociedades se não houver uma orientação superior que referencie e estabilize os confrontos de interesses em cada uma das sociedades integradas na União.
Esta é uma crise de descontinuidade, que destrói o que vem do passado e deixa o futuro como um horizonte de incerteza radical: a realidade efectiva das coisas indica que não se sabe o que esse futuro vai ser e vai exigir. Onde há uma direcção política homogénea, como no Banco Central Europeu, as respostas à crise são consistentes e poderosas. Mas quando um dos seus instrumentos essenciais, a emissão de dívida europeia conjunta, é posta em causa, com a queixa apresentada no Tribunal Constitucional alemão com o argumento de que os tratados da União o proíbem, tem de se reconhecer que a vontade de afirmar a autonomia estratégica da Europa não consegue ultrapassar o obstáculo dos interesses nacionais a 27. Em política, a necessidade nem sempre é a possibilidade.
Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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