Pagar tarde sai caro?
O impacto negativo dos atrasos nos pagamentos é brutal, mas parece que a mensagem não tem chegado a muitas empresas. Para além do óbvio impacto financeiro para o credor, há outros impactos geralmente não medidos mas muito relevantes.
Segundo o Barómetro de Pagamentos da Informa D&B, apenas 14,5% das empresas portuguesas pagaram o que deviam nos prazos previstos, ao longo de 2019, tendo a média europeia sido de 42,8%. Em cerca de 2/3 das empresas há um atraso nos pagamentos até 30 dias, sendo que em 7,2% das empresas os atrasos são superiores a 90 dias.
Porque temos uma média tão baixa?
Em Espanha, 47,5% das empresas pagam nos prazos acordados com fornecedores, pelo que o argumento do "latino" não justifica os atrasos. O ganho financeiro do dinheiro aplicado nesses dias do atraso também não justifica, tendo em conta as muito baixas taxas de juro dos depósitos. Então porque tantos pagam após o prazo devido?
Há uns que o fazem por real falta de liquidez para pagar as dívidas. Mas há alguns que o fazem apenas porque pode ser que o dinheiro faça falta para alguma eventualidade, que raramente surge. Uns atrasam-se por má gestão financeira e/ou administrativa, não se preocupando muito com os pagamentos. Outros simplesmente são "espertalhaços", que gostam de se fazer de distraídos para atrasar o pagamento.
Todos se esquecem é que se quem lhes dever dinheiro também seguir o mesmo raciocínio, também vão sofrer, e será negativo para todos no longo prazo.
O impacto negativo dos atrasos nos pagamentos é brutal, mas parece que a mensagem não tem chegado a muitas empresas. Para além do óbvio impacto financeiro para o credor, há outros impactos geralmente não medidos mas muito relevantes.
Começamos pelo impacto na relação e confiança entre as partes devedora e credora. Como é que os que se atrasam nos pagamentos julgam que os credores se sentem? Que imagem é que julgam que passam aos outros? Num mundo em que a reputação é chave, não percebem que só prejudicam a sua imagem?
Para além disso, a carga administrativa de cobrança fora de horas é custosa e desgastante da relação. Ainda há a imprevisibilidade de cash-flows para a gestão financeira da empresa, que não sabe se e quando vai receber dinheiro.
Há empresas que realmente estão numa situação financeira muito delicada, e compreendo que para essas o pagamento a horas seja difícil. Mas excluindo essas, será que muitos gestores não percebem o mal que fazem aos outros, e que acabarão por se prejudicarem a si próprios? É um ato de responsabilidade social gerir bem os pagamentos (que são os recebimentos dos outros)!
Gestor e Docente Universitário
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