Desejos para 2019
Este é o meu último artigo de 2018, um ano que não deixa saudades na bolsa portuguesa, com um Janeiro que prometeu muito mas, posteriormente, o mercado perdeu toda a sua força, começando a dar claros sinais de fraqueza e, no segundo semestre, acelerou as quedas.
Apesar de já ter despido o meu fato de touro, a verdade é que gostava que o mercado voltasse a subir. A esmagadora maioria dos pequenos investidores portugueses detém acções e só uma ínfima percentagem ganha dinheiro com as quedas, em mais sofisticados instrumentos financeiros. O mercado accionista a subir significa não apenas ganhos para os pequenos investidores, como é importante para a nossa economia, quase parecendo que respiramos um ambiente melhor. Não confundo desejos com previsões e, como sabem, nesta altura estou neutro em relação à bolsa portuguesa. Mas, neste artigo, enumero uma série de aspectos que gostaria que acontecessem em 2019 e que poderiam trazer de novo os touros ao poder do nosso mercado.
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Desejo que, em 2019, o Governo dê sinais que olha para o mercado de capitais com outros olhos. O facto de o actual Governo estar suportado por partidos que olham para o mercado de capitais como uma espécie de demónio com a forquilha na mão tem prejudicado bastante a bolsa portuguesa. Em tempos escrevi que "o mercado não gosta de quem não gosta dele" e isso tem sido sintomático. A ideologia da actual política governativa passa por taxar as grandes empresas para poder atribuir alguns benefícios a quem luta nas ruas. É mais fácil, é mais popular, mas tem consequências. Não me cabe a mim dizer qual a política correcta sobretudo num país em que a classe média foi tão penalizada no passado, mas é importante que se perceba que há escolhas a fazer e algumas medidas populares acabam por ter reflexos a outro nível e o nosso mercado de capitais tem sofrido bastante nesta matéria.
É crucial que o volume da bolsa portuguesa aumente em 2019, mas isso só acontece com o regresso dos estrangeiros ao nosso mercado e, para isso, é preciso confiança. E, voltando ao tema anterior, que estrangeiro quer investir a sério numa grande empresa portuguesa quando, a qualquer altura, por decreto, o Governo decide lançar uma taxa suplementar?
Desejo que, de uma vez por todas, o PSI-20 tenha um nome condizente com o que representa. Há quanto tempo o PSI-20 não é composto por 20 empresas? É uma situação triste, decepcionante e que descredibiliza o nosso mercado. Percebo que não se queiram incluir no principal índice português de acções com muito pouca liquidez, mas então que haja coragem para alterar o nome do PSI. Chamar PSI-20 a algo que devia ser PSI-18 é motivo de chacota lá fora e mais uma facada na credibilidade no nosso frágil e pequeno mercado.
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Seria importante que uma das grandes acções da bolsa portuguesa liderasse o pelotão. Tem faltado ao nosso mercado uma acção com peso no índice que suba com muita força e reboque as restantes. Faço votos para que, em 2019, uma liderança forte apareça e que provoque um efeito de contágio.
Desejo também que a Sonae recupere a sua tendência ascendente e mostre força. A história do nosso mercado mostra que não é possível um "bull market" sem que a Sonae também o esteja. E, uma vez mais, foi a fraqueza da Sonae que antecipou as quedas da bolsa portuguesa. Nem sempre a acção tem esta capacidade preditora, mas uma coisa é certa: sem uma Sonae forte não há "bull market" na bolsa portuguesa, provavelmente por ela abranger tanto da economia nacional.
Tecnicamente, aquilo que considero imprescindível para os touros voltarem a assumir o controlo da nossa bolsa é que voltem a recuperar a zona perdida entre os 5.000 e os 5.050 pontos. Se quebrarem consistentemente essa resistência, eu voltarei a vestir o fato de touro e é esse o meu desejo, pois é o fato que mais gosto de vestir.
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Sobretudo, desejo que os investidores portugueses tenham sucesso. Que entendam que o mercado de capitais tem risco, que ninguém sabe o que o mercado vai fazer amanhã, que não acreditem quando alguém lhes tenta explicar porque é que a bolsa portuguesa subiu 0,3% num dia ou caiu 0,4% noutro e que nunca culpem o mercado por perderem dinheiro em bolsa. A culpa é sempre nossa.
Mas, mais importante que a bolsa portuguesa suba ou desça, que a Sonae esteja bem ou o Governo decida isto ou aquilo, aquilo que verdadeiramente importa e vos desejo é que tenham um 2019 cheio de saúde e que desfrutem das pessoas de quem mais gostam. No final, são essas as únicas contas a fazer. Feliz 2019!
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Nem Ulisses Pereira, nem os seus clientes, nem a DIF Brokers detêm posição sobre os activos analisados. Deve ser consultado o disclaimer integral aqui
Analista Dif Brokers
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