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Muita parra e pouca uva

Por mais estranho que possa parecer, na maioria do tempo dos mercados não se passa nada relevante. Os mercados são maratonas monótonas.

Após duas semanas de ausência da escrita por ter estado a liderar a selecção feminina de andebol nos Jogos do Mediterrâneo, regresso e encontro o mercado no mesmo sítio em que o tinha deixado. Não deixa de ser curioso que, durante esse período, muitos disseram que o mercado se ia despenhar, que estava a mostrar fraqueza mas, olhando friamente para os números, podemos ver que o mercado se moveu num curto intervalo de amplitude de 2% (1% para baixo e 1% para cima), o que mostra bem que pouco aconteceu neste período.

Por mais estranho que possa parecer, na maioria do tempo dos mercados não se passa nada relevante. Mas as notícias, as análises e a tendência natural de os investidores quererem tirar conclusões de qualquer micromovimento fazem com que pareça haver sempre excitação e factos relevantes todos os dias. Muitos erros são cometidos por essa ânsia de tentar tirar conclusões numa janela demasiado pequena. Em bom rigor, os mercados são maratonas monótonas, intervaladas por "sprints" de 100 metros em que muito se joga e onde o público se levanta das bancadas.

Nas últimas semanas, algumas acções importantes desvalorizaram-se para gáudio dos ursos que viram nesse movimento o sinal que esperavam para o fim do "bull market", mas o poder da tendência continua a não deixar que a bolsa portuguesa se entregue ao domínio de uns ursos que continuam a hibernar, mesmo que continuem a colocar a cabeça de fora na esperança de que os seus dias regressem. Em sentido contrário, algumas acções estabeleceram novos máximos históricos, algo que mostra a força de um mercado que precisa do contributo, em simultâneo, das várias acções para dar mais um pulo e um arranque rumo a máximos dos últimos três anos.

Não deixa de ser curioso que aqueles que prognosticam o regresso às quedas da bolsa portuguesa o fazem quase sempre recorrendo à antevisão do final dos "bull markets" nas outras praças. E o maior argumento é que são já muitos anos de subida nos mercados internacionais e que terão de chegar ao final. Este raciocínio tem dois problemas: o primeiro é que já o ouço há mais de um ano e antever finais de "bull markets" devido à sua duração é altamente perigoso, pois as tendências podem sempre durar muito mais tempo do que imaginamos. Por outro lado, é muito perigoso estar a negociar ou analisar um mercado com base em outros. As bolsas mundiais vivem um período dourado de muitos anos, Portugal apenas se juntou a essa festa nos últimos dois anos e a correlação na última década entre este mercado à beira-mar plantado e o resto do mundo está longe de ser perfeita.

Há sinais de risco na economia mundial? Há. Portugal tem risco de enfrentar uma desaceleração económica? Sim. Mas esses riscos, desafios, obstáculos, ou como lhes queiram chamar, estão sempre presentes. Fazem parte dos dias de qualquer economia e, se estivermos sempre com receio que eles se concretizem, teremos de estar sempre fora do mercado. Sempre. É inegável que Portugal vive um bom momento, com crescimento económico, com a taxa de desemprego a níveis historicamente muito baixos e com um clima de confiança muito elevado. Temos problemas estruturais? Sem dúvida de que temos e que nos irão causar calafrios no futuro. Mas é normal que a bolsa portuguesa esteja a subir nos últimos dois anos, depois de tantos anos de depressão económica e domínio dos ursos.

Tecnicamente, olhando para o gráfico, não vejo qualquer novidade. Por isso, mantenho o fato de touro que trago vestido há muito tempo e continuo a acreditar que o PSI terá condições para ultrapassar a crucial resistência dos 5.800 pontos e estabelecer novos máximos dos últimos três anos. Mas, como sempre, gosto de deixar expresso aquilo que me fará mudar de ideias. Se o PSI vier abaixo dos 5.250 pontos, será o primeiro grande sinal de fraqueza e, se quebrar consistentemente o decisivo suporte dos 5.050 pontos, abandonarei o clã dos touros.

Por agora, não vejo qualquer razão para não manter o mesmo optimismo que venho manifestando no último ano e meio. Num "bull market" não são os touros que têm de provar algo. São os ursos que têm de dar sinais de que estão vivos, quebrando suportes e mostrando que algo mudou. O festejo do segundo aniversário deste "bull market" foi feito sem foguetes e balões. Apenas com velas e um canto de parabéns bem baixinho. É provável que ninguém tenha reparado.

Muita parra e pouca uva

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Analista Dif Brokers

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