Volante à esquerda ou à direita?
Montar uma guerra comercial para proteger os fabricantes locais e outros lobbies não resolve o problema. Tal como não resolveu nos anos 90.
Para justificar a cruzada "tarifária" contra o resto do mundo, o presidente Trump usa argumentos curiosos. Um deles foi o de que os japoneses usam uma bola de bowling largada de certa altura para os capots de automóveis para ver o estrago que fazem. A ideia é acusar os japoneses de dificultar a entrada de carros americanos no país…
Isto fez-me lembrar o que vi (in loco) no início dos anos 90, em Detroit, no Michigan, o berço dos então "três grandes": GM, Ford e Chrysler. A entrada de carros japoneses provocou uma crise sem precedentes: quebras nas vendas, prejuízos e consequente despedimentos (fortemente sindicalizados). De repente começaram as greves com os respetivos piquetes, barricadas e um generalizado "Japan bashing". De tal forma que o presidente Bush teve de pedir ao 1º ministro japonês para facilitar a importação de carros americanos…
A reação de um dos importadores japoneses foi lapidar: vocês mandam para cá carros com volante à esquerda quando a condução no Japão exige volante à direita. Tudo isto mostra a estupidez com que os americanos lidam com o problema da incapacidade de vender os seus carros no mundo: não estão adequados aos mercados locais. Seja pelo tamanho, pelo consumo, pela qualidade deficiente ou até pelo design (exterior e interior).
Montar uma guerra comercial para proteger os fabricantes locais e outros lobbies não resolve o problema. Tal como não resolveu nos anos 90. Até porque a concorrência japonesa, de que os "três grandes" se queixavam, vinha de dentro de portas: os japoneses já se tinham instalado nos EUA, com fábricas longe de Detroit: Kentucky, Tennessee... Os americanos, de facto, não aprendem
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