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Fernando Braga de Matos
29 de Agosto de 2008 às 13:00

Buffett über alles (ou talvez não), Parte II

Como sempre, há o homem e as suas circunstâncias. Como já vimos, as de Buffett não podiam ter sido mais favoráveis(1). Nasceu e viveu nos Estados Unidos, o país mais rico e desenvolvido, em capitalismo fervilhante. Estudou na Columbia, grande escola de Business (em Portugal e, aliás, em grande parte da Europa, ...

Estudou na Columbia, grande escola de Business (em Portugal e, aliás, em grande parte da Europa, as Faculdades de Economia estavam ainda no início e, em finanças, orientavam-se para Finanças Públicas). Foi aluno de Benjamin Graham, o teorizador da Value Investing (a estratégia de procurar acções "baratas", segundo rácios que ele definiu, e deixá-las amadurecer até terem atingido o seu real valor, o seu "valor intrínseco", para utilizar a expressão do autor), e, graças a ele, bem cedo aderiu ao método que estaria na base do seu enriquecimento.

Era o tempo de Walt Disney, as acções compravam-se a 3 reis de mel coado(2), numa América transida pelo Crash de 1929 e pela Grande Depressão. A famosa empresa de Buffett, a Hataway Berkshire, comprou-a em 1956 (vivíamos nos cá, na pré-história, em Condicionamento Industrial!) e, de têxtil transformou-a em empresa financeira (seguros, resseguros, jóias…), extraindo-lhe todo o valor, nomeadamente de activos subaproveitados.

Depois, todos conhecem o seu caminho pela Coca-Cola, o Washington Post, a Johnson and Jonhson, a Gillette, a American Express, etc.

Mas que foi fazendo o Homem? Não andou só a "descobrir valor" (como fazia Graham), mas a multiplicá-lo por via de acção pessoal, desde tomar lugar nos conselhos de administração ao puro "corporate raiding"(3). Este ponto é altamente assinalável: "Não se trata de simplesmente encontrar um diamante no chão, mas sim de o trabalhar até à forma final, pois eventualmente só aí ganha valor". É a visão do que a empresa pode passar a ser (até muito diferente), que contém "o valor escondido" – não o que ela é no momento.

Depois temos o efeito multiplicador de capitais alheios obtidos a baixíssimo custo acoplado aos "momentos de mercado" – que sempre tiveram enorme efeito de oportunidade –, apesar da permanente desvalorização verbal do dito "mercado" – como após o "crash" de 1987.

E quando a América deixou de ser um paraíso de oportunidades, tanta a concorrência, o nosso herói virou-se para os mercados emergentes (em 2003), onde ainda era possível encontrar acções baratas (mas isso muito depois de Templeton).

Eis o "Toque de Midas", para usar o título dum livro que lhe é dedicado. No final, como dizíamos: Homem e Oportunidade. Mas, apenas como investidores de Bolsa, Lynch, Templeton ou Carnegie, eles também filantropos, não teriam sido iguais ou até maiores?

Por exemplo, sabia que, por não acreditar no "tempo de mercado", de 1995 a 2005, o Fundo de Buffett foi largamente batido por outros(4) e que se agora é o nº 1 em riqueza pessoal tal se deve ao facto de as acções da Berkshire Hataway, devido, aparentemente, à sua baixíssima liquidez e frequência negocial, terem levado, nesta crise das Bolsas, um banho muito menor que as dos seus "rivais" Bill Gates e Carlos Slim(5) (devido ao enorme valor da cotação, a regra, quanto a liquidez poderá ter funcionado ao contrário)? Não ficou a ganhar, os outros é que perderam mais.

Até nisto é o mercado que faz leis…

(1) Esta crónica é continuação da do dia 22/8.

(2) Em Portugal é praticamente impossível mas, nos EUA, Al Gore p.e. tornou-se multimilionário na IPO da Google e a velhota do filme ficou super rica porque comprou a Intel a 6. E nem mexeram em mais nada.

(3) Um caso famoso, de uma têxtil do Mississipi, deslocalizada para o México, com aproveitamento de activo imobiliário de extrema valia e depois ainda mais valorizado, passou recentemente no "60 minutos").

(4) Em 1996, na altura da famosa frase de Greenspan sobre "exuberância irracional", Buffett, no seu sempre famoso relatório de Dezembro, declarou que saía do mercado, incompreensível e sobrevalorizado. Ora, até 2000, ainda houve uns 300% para ganhar. Sempre o mercado, que, se calhar, sempre existe.

(5) Uma acção da BH vale 115.000 USD!!!!! E esteve cotada a 151.000 ainda há poucos meses…

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