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Fernando Braga de Matos
05 de Setembro de 2008 às 13:00

Buffett über alles (ou talvez não), Parte III

Eis-nos "au bout de nos peines", no terceiro e último episódio desta fantástica trilogia, modelo George Lucas e ainda melhor que a entrada dos Sith. A atrevida finalidade, definida no início, era tentar demonstrar que a estratégia de Buffett não é a boa para o investidor individual, senão "ancilarmente".

Nas crónicas anteriores deixei o primeiro ponto argumentativo: Buffett nasceu e vive em condições perfeitamente únicas que permitiram a eclosão do tremendo sucesso, sem as quais o seu talento singular ficaria a dar frutos menos suculentos e definitivamente fora do alcance de um investidor part time, em Portugal.

Este tipo de afirmação dá bocejos de tão evidente. Um bom condutor de automóvel, sem o percurso de vida de Senna, poderia aspirar ao êxito deste ou até, simplesmente, a ser condutor de F1? Um merceeiro de qualidade pode estar no comércio alimentar como se posiciona a Sonae? Ora, para fazer o melhor, seguir-lhes os métodos, sem mais, seria rigorosamente estúpido.

Pode-se dizer que também seria idiota recusar a inspiração e lições, e, evidentemente eu não poderia estar mais de acordo. Por isso, afirmei que a estratégia básica de Buffett deve ser usada, mas apenas de forma auxiliar, como se aconselharia a um personagem dos cenários hipotéticos que efabulei.

Estamos ditos do lado dos personagens, dos actores da aventura do investimento.

Porém, a razão maior resulta da natureza assimétrica do jogo: os Buffetts e os Silva actuam em campos e meios de natureza diferente, principalmente no domínio da informação, ela também claramente assimétrica – matéria que conduziu, aliás, Stilglitz ao Nobel.

Silva tem centenas de funcionários especialistas na busca e tratamento de informação, com biliões de dólares no dedo mindinho? Como não tem, há que fazer como outros, em jogos assimétricos, por exemplo Kotosov enfrentando Napoleão. Com a aproximação assimétrica, Smolensk deu lugar a Borodin e à vitória.

O particular tem que investir, também de modo assimétrico, fugindo até ao modelo de fundos (que, por muito profissionais, não batem em média o mercado).

Ponto assente: os pontos fracos vêm da insuficiência de meios, (tempo incluído).

Vejamos os pontos fortes: a pequena dimensão e a agilidade para fazer e desfazer posições instantaneamente. Drake venceu a Invencível Armada, numa aproximação assimétrica, com aquela mesma tipologia.

Para o particular, parece então evidente que a estratégia essencial será Market Timing (1), que maximiza os pontos de vantagem, seguindo o velho aforismo "Cut the losses let the profits run".

E tenho dito, ó Buffett!

Apostila – Não posso deixar de dar os parabéns a alguns membros da Sociedade da Terra Plana, que comentaram os anteriores escritos, nos quais até encontraram inveja (2). Ora, tudo pode e deve ser discutido e escrutinado, até as vacas sagradas, e para quem acha que não, Hare Krishna e Feliz Ano Novo!

(Ah! O nosso Egas Moniz ganhou mesmo o Prémio Nobel por causa da lobotomia; bastava ter ido ao "site" da Academia sueca, nem dava muito trabalhex, coisa para dois minutos).

(1) Buffett pode-se dar ao luxo de asseverar que o "Sr. Mercado" para ele não existe (e já vimos que até pagou por isso) e que, por exemplo, não gosta da diversificação, instrumento de ignorantes. Para nós, os outros, nem pensar nisso é bom.

(2) É verdade, claro.

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