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23 de Outubro de 2000 às 18:40

«Da Contabilidade à Informação para a Gestão»

As empresas de hoje são diferentes das de há cem anos, logo a forma de gerir uma empresa hoje não se compadece com o que se fazia antigamente....

As empresas de hoje são diferentes das de há cem anos, logo a forma de gerir uma empresa hoje não se compadece com o que se fazia antigamente.

No mundo complexo e concorrencial em que vivemos, a classe empresarial sente cada vez mais a necessidade de possuir informações diárias e credíveis sobre a empresa e o ambiente que a rodeia (clientes, fornecedores, Estado, concorrência, colaboradores, bancos, etc.).

Sendo assim, a contabilidade, uma das disciplinas base para a tomada de decisões dos empresários no seu dia-a-dia, deveria ser vista de forma diferente da actual. À contabilidade e aos contabilistas não se dá hoje a importância e o valor que se deveria dar. Por culpa de quem? Dos contabilistas dirão uns, dos empresários dirão outros.

Seja de quem for a culpa uma coisa é certa, é urgente alterar esta situação.

Uma nova visão da Contabilidade

A contabilidade não pode ser um acto periódico, tem de ser um acto contínuo. A contabilidade não existe para dar informação para o fisco, mas para dar informação para a gestão.

Reflictamos um pouco, como é possível que a maioria das nossas PME’s possuam ainda carências a este nível, se os sistemas informáticos têm evoluído e a saída de jovens licenciados nesta área tem crescido?

A técnica contabilística não pode continuar a ser vista como um parente pobre, como algo de pouco valor e que só se faz porque o Estado o exige.

A contabilidade é a génese de todo o processo, sendo do rigor desta que poderá sair toda uma série de indicadores e análises, que ajudam o empresário no seu dia-a-dia.

A reter: rácios económico-financeiros, mapas de tesouraria, DOAF, mapas de investimento e desinvestimento, tableaux de bord, estrutura de custos, balanços e demonstrações de resultados, estrutura de proveitos (por cliente, por zona, por departamento, por produto/artigo, por vendedor,...), análise de centros de custos, etc.

Estes são exemplos do muito que se pode extrair de um sistema contabilístico bem implementado, tendo sempre em atenção que cada empresa é um caso único, logo há necessidade de ajustar estes elementos ao que a empresa de facto necessita.

É este tipo de serviço e informação que os contabilistas têm cada vez mais de prestar, se quiserem ver o seu trabalho valorizado e prestigiado. Embora se possa dizer que muitos dos nossos empresários não estão sensibilizados para este tipo de informação, o certo é que compete aos contabilistas e consultores criar esta apetência, para as nossas empresas prosperem e vinguem neste mercado global.

Os meios técnicos existem. Os meios humanos formam-se. A vontade tem de surgir, senão o próprio mercado ditará as suas regras.

É, então, importante que o largo investimento que os nossos empresários fizeram, nestes últimos anos, em hardware e software informático, seja acompanhado por um investimento em pessoal especializado (quadros da empresa ou em regime de outsourcing). O que se passa actualmente em muitas das nossas PME’s é um sub-aproveitamento das potencialidades dos sistemas informáticos (contabilidade, gestão da produção, gestão comercial, etc).

A extração e a “digestão” das informações destes sistemas é o verdadeiro valor que se pode acrescentar, permitindo ao empresário tomar as decisões com base em factos reais e dos mais variados sectores da empresa.

As componentes extra-contabilísticas: Medir o intangível

Mas uma empresa não é só “números”, e a sua capacidade de sobrevivência e/ou de sucesso não depende, nos dias que correm, exclusivamente da componente financeira. O crescendo de importância que vão tendo os activos intangíveis, o meio cada vez mais complexo que rodeia as  empresas, os desafios que se lhe colocam todos os dias, requerem que o empresário se muna de meios que o permitam colocar a par da evolução de outros indicadores.

É nesta óptica que existe, por exemplo, o Balanced Scorecard. Este instrumentopermite, através de um rol de indicadores, aferir das componentes de aprendizagem, crescimento, processos e clientes de uma empresa. Prestar este tipo de serviço é transmitir ao empresário uma série de informações e conhecimentos, que possibilitam à sua organização possuir a verdadeira informação de gestão.

O Balanced Scorecard permite quantificar conceitos, como missão e estratégia, em indicadores e objectivos tangíveis. Uma ferramenta importante, na medida em que permite aferir do real valor que hoje as empresas possuem, e que muitas das vezes não vem traduzido num simples balanço. Caso flagrante: as próprias empresas de contabilidade. Será que uma empresa de contabilidade vale pela sua situação líquida que é apresentada no balanço? Ou será que ela vale pela sua carteira de clientes, pela qualificação dos seus recursos humanos e pela existência de um plano estratégico bem delineado?

Irei, de seguida, fazer uma pequena abordagem destas quatro componentes do Balanced Scorecard, para que o leitor fique a conhecer um pouco melhor as potencialidades deste instrumento, bastante utilizado nos países anglo-saxónicos:

      - A Perspectiva do Cliente

Tem a ver com indicadores como: quota de mercado, rentabilidade por cliente, grau de satisfação do cliente e flexibilidade demonstrada nos fornecimentos. Tudo isto em segmentos próprios de mercado onde a empresa actua, ou visa actuar no futuro.

- A Perspectiva dos Processos

Tem a ver com os processos críticos do negócio, aqueles onde a empresa deve concentrar as suas energias. Aqui se analisam quais os processos que a empresa deve utilizar de forma a prosseguir na sua estratégia, procurando, pela inovação, capitalizar as oportunidades de melhoria futura dos indicadores financeiros.

- A Perspectiva da Aprendizagem e Crescimento

É talvez uma das perspectivas mais interessantes, na medida em que procura identificar as infra-estruturas que a organização necessita para criar um desenvolvimento sustentado de longo prazo, ou seja, recursos humanos, sistemas, e procedimentos organizacionais. Depois de identificadas estas infra-estruturas, a empresa investirá naturalmente naquelas em que existam maiores deficiências, de modo a poder concretizar os seus objectivos. Esta abordagem permite, por exemplo, que todos os colaboradores se mobilizem na prossecução da estratégia definida.

- A Perspectiva Financeira

Algo diferente das abordagens financeiras clássicas, esta perspectiva do Balanced Scorecard permite retirar indicadores não só do segmento onde a empresa actua, como também dos segmentos onde visa actuar: estratégia definida para o negócio. Assim, para além das rentabilidades usuais, consagra também indicadores para as produtividades, optimização de activos e gestão do risco.

Basicamente, devem mostrar se a execução estratégica da empresa está a contribuir para a melhoria dos resultados.

Resumindo: o Balanced Scorecard, não preconizando uma metodologia de cálculo pura, para a medição do valor do capital intelectual ou dos activos intangíveis, alerta, contudo, para um conjunto de indicadores que permitem a sua monitoragem, de acordo com as orientações emanadas do plano estratégico da empresa.

Só para grandes empresas? Não. Os nossos empresários têm de se capacitar que estas informações têm o mesmo grau de utilidade quer tratemos de uma grande, média, pequena ou micro empresa.

Com o advento da Internet, dos ASP (aplication service provider), e de softwares cada vez mais avançados, é já possível à contabilidade surgir de forma quase automática. Assim, o real valor estará cada vez mais na implementação de soluções com elevado teor intelectual e que possibilitem tomadas de decisões correctas e atempadas por parte da nossa classe empresarial.

A rapidez com que o meio se transforma, leva a que os empresários tenham de possuir uma capacidade de gestão diária bem alicerçada, pelo que a figura do contabilista, como actualmente o conhecemos, tem de se transformar no verdadeiro consultor de gestão que, apoiado nos instrumentos próprios, ajuda o empresário nas suas decisões.

O bom profissional é aquele que, para além de fazer correctamente o seu trabalho, o consegue valorizar!

 

Sérgio Paulo Póvoas

Coordenador do Departamento de Gestão da Gebanha, Lda.

spovoas@gesbanha.pt

www.gesbanha.pt

 

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