Ganhar tempo ou perder tempo?
Bruxelas está mais perto de invocar a cláusula de salvaguarda às importações de têxteis da China. A exuberância comercial dos produtos chineses, cujas importações cresceram nos primeiros meses do ano entre 50 e 500%, de acordo com as categorias, ...
A exuberância comercial dos produtos chineses, cujas importações cresceram nos primeiros meses do ano entre 50 e 500%, de acordo com as categorias, provocando descidas de preços vertiginosas - para metade ou um terço do anterior valor de mercado - , pelo seu carácter «preocupante», estão a reduzir as resistências da liberal Comissão Europeia.
O lobby têxtil europeu, liderado pelas indústrias dos países do Sul - França, Itália, Espanha e Portugal - está a conseguir o que anda a pedir há mais de um ano, antes mesmo da liberalização. A questão resume-se agora ao timing, se será apenas em Setembro ou antes, seguindo a via rápida defendida pela França, e à dimensão das medidas.
A reintrodução de barreiras às importações é justificada pela indústria têxtil europeia como uma forma de ganhar tempo.
Ganhar tempo para quê? Para proceder aos ajustamentos necessários e ao reforço da sua posição competitiva, porque, seja em 2008, data limite para a invocação da cláusula de salvaguarda, mais ano menos ano, os mecanismos de defesa ficarão limitados às regras gerais da OMC.
No caso do sector português, convinha perceber o que se propõe fazer de diferente nestes anos adicionais de adaptação, uma vez que na última década beneficiou de diversos programas específicos - IMIT e Retex - além de aceder aos diversos PEDIP. Entre 1988 e 2003 o têxtil e vestuário absorveu quase 1.200 milhões de euros de incentivos comunitários, metade dos quais foram obtidos como compensação ao apoio de Portugal ao desmantelamento do acordo multifibras negociado em 1994.
Período de adaptação foi coisa que não faltou ao sector têxtil nacional. A modernização e os ganhos de competitividade foram, em termos médios, incipientes. Como vai conseguir fazer em três anos o que não fez em dez é a grande questão. Para que o tempo que venha a ganhar não acabe por ser uma verdadeira perda de tempo.
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