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Carlos Varela
12 de Maio de 2014 às 09:49

O caso das acções da região Ásia-Pacífico: um lembrete para os investidores

Para os investidores de acções, a decepcionante evolução dos lucros nos últimos três anos tem sido o principal responsável pela contenção do mercado da região Ásia-Pacífico. No entanto, têm aparecido alguns sinais positivos. As revisões de ganhos do índice MSCI AC Asia Pacific ex Japan apontam para certa estabilização, e nalguns mercados fundamentais verifica-se mesmo uma tendência de subida.

Após um longo período em que os mercados ocidentais concentraram toda a atenção e todo o afluxo de capitais dos investidores, parece ter chegado a altura de explicar por que motivo importa continuar a considerar a região Ásia-Pacífico como uma categoria de activos principais a longo prazo. As avaliações actuais, aliás, dão a entender que poderá tratar-se de uma excelente porta de entrada para os investidores interessados na obtenção de maior exposição aos mercados da região Ásia-Pacífico.

É bem conhecida a importância da questão demográfica no caso das acções da região Ásia-Pacífico, mas vale a pena voltar a frisar este ponto. Actualmente a Ásia alberga mais de 60% da população mundial, mas é responsável por apenas 28% do PIB global, aproximadamente. Prevê-se que este valor venha a sofrer um aumento substancial nas próximas décadas. Mais importante ainda, porém, é a respectiva taxa de crescimento. De acordo com o Índice de Competitividade Global do Fórum Económico Mundial, a Ásia é uma das regiões mais competitivas no universo dos mercados emergentes. Em termos futuros, estima-se que a Ásia (predominantemente liderada pela China e pela Índia) venha a ser responsável por mais de 60% do crescimento económico mundial em 2025. Esta rápida alteração na composição do PIB mundial deverá fazer com que a região aumente drasticamente a sua quota de ponderações de índices globais.

O aumento do consumo

Devido aos elevados níveis de poupança, ao aumento da massa salarial e ao crescimento do crédito pessoal, verifica-se um rápido incremento do consumismo entre a população da região Ásia-Pacífico, e esta tendência faz-se sentir numa vasta gama de sectores. Nos próximos anos, o aumento do rendimento per capita dos países emergentes (sobretudo da China e da Índia) deverá ultrapassar o dos Estados Unidos por uma margem significativa, apesar de a taxa de crescimento se encontrar em desaceleração, depois de ter atingido máximos históricos. Além disso, de acordo com um estudo da Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento (OCDE), prevê-se que a quota-parte da região Ásia-Pacífico no consumo das famílias da classe média a nível mundial aumente de 23% em 2009 para 59% em 2030, ao passo que a quota-parte da América do Norte e da Europa em conjunto deverá diminuir de 64% para 30%.

A base do crescimento global?

Com a sua forte quota de mercado nas exportações da indústria transformadora, a Ásia está bem posicionada para participar, em 2014, numa conjuntura caracterizada por um crescimento global mais sincronizado, dada a sua posição consolidada e enraizada na cadeia de abastecimento global. A exposição da Ásia às indústrias a jusante é maior do que a da Europa e dos Estados Unidos. À medida que o ritmo de consumo de commodities da China sofre uma desaceleração, aliviando a pressão exercida sobre os preços das matérias-primas, os exportadores de recursos naturais, como a América Latina e a Rússia, sofrem as consequências. Neste sentido, a Ásia deverá beneficiar não só de uma recuperação das exportações para mercados desenvolvidos, como também da redução dos custos dos materiais e da permanente solidez da própria procura interna da região.

Além disso, no interior da própria Ásia, a diversidade de perfis económicos oferece oportunidades de diferenciação e maior diversificação. A Ásia constitui uma mistura peculiar de economias desenvolvidas e emergentes, o que permite aos investidores seleccionar as melhores oportunidades de investimento nas duas vertentes. As economias mais desenvolvidas, mais abertas e mais vocacionadas para a exportação, como é o caso da Coreia, de Singapura e de Taiwan, beneficiam claramente com a retoma global em curso, sobretudo com o aumento da procura em sectores cíclicos, como a indústria automóvel e a de artigos electrónicos. Por outro lado, países como a China, a Indonésia e a Tailândia também oferecem boas perspectivas de investimento em sectores como a Internet, comunicação social, saúde, energias renováveis e acções verdes.

Terá chegado a altura de retomar os lucros?

Para os investidores de acções, a decepcionante evolução dos lucros nos últimos três anos tem sido o principal responsável pela contenção do mercado da região Ásia-Pacífico. No entanto, têm aparecido alguns sinais positivos. As revisões de ganhos do índice MSCI AC Asia Pacific ex Japan apontam para certa estabilização, e nalguns mercados fundamentais verifica-se mesmo uma tendência de subida. A continuação da evolução positiva dos lucros das empresas poderá constituir um dos catalisadores fundamentais para refazer a confiança dos investidores na região.

Há riscos potenciais que importa monitorizar

Qualquer oportunidade de investimento comporta riscos. Por exemplo, a Ásia não está imune aos caprichos dos fluxos de fundos globais, e a turbulência que se verificou recentemente nos mercados emergentes levou os investidores a resgatar grandes quantias dos mercados emergentes como um todo, colocando a pressão de venda sobre os preços das acções.

De facto, a Ásia enfrenta problemas semelhantes aos de muitos outros países de mercados emergentes, como o rápido crescimento do crédito interno e o aumento dos preços dos activos, os quais decorrem da flexibilização das políticas monetárias por parte dos bancos centrais a nível mundial após a crise financeira de 2008. No entanto, para muitos bancos centrais e governos asiáticos, as lições da crise financeira asiática de 1997 não caíram no esquecimento. Chegam-nos sinais de que os governos estão realmente a tomar medidas dolorosas mas necessárias para corrigir os desequilíbrios financeiros e conter os preços dos activos, no intuito de alcançar um crescimento económico mais sustentável a longo prazo. No entanto, há uma série de tensões políticas a curto prazo que poderão continuar a causar volatilidade, embora essa volatilidade possa proporcionar boas oportunidades de investimento a gestores conscientes da importância do valor e capazes de empreender uma abordagem ascendente.

Conclusão

O momento de entrada em qualquer categoria de activos constitui um desafio, mas em termos históricos parece valer a pena investir na região Ásia Pacífico com as avaliações actuais. Depois de ter sofrido reduções de ganhos nos últimos anos, o retorno das acções na região Ásia-Pacífico diminuiu, e parece razoável esperar alguma normalização. As avaliações actuais são significativamente inferiores às dos países desenvolvidos, o que constitui uma excelente porta de entrada. Condições demográficas favoráveis, solidez orçamental, boa dinâmica de lucros e baixas avaliações, tanto em termos históricos como em comparação com a situação actual dos mercados desenvolvidos - tudo aponta para uma região que está a tornar-se cada vez mais sofisticada e a ganhar relevância económica. Numa altura em que os investidores estão a reavaliar a alocação de activos estratégicos e o posicionamento das suas carteiras, importa reconhecer às acções da região Ásia-Pacífico um papel cada vez mais importante em qualquer carteira reequilibrada.

Head of Sales da JPMorganAM para a Península Ibérica

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