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Stephen Roach
21 de Setembro de 2016 às 20:00

Crescimento Mundial – ainda feito na China

Mesmo depois da transição da "antiga normalidade" para o que a liderança chinesa apelidou de "nova normalidade", o crescimento económico mundial continua fortemente dependente da China.

Apesar de todas as inquietações manifestadas sobre o badalado abrandamento da China, a economia chinesa continua a ser o maior contribuinte individual para o crescimento do PIB mundial. Para a economia mundial, que avança penosamente e vai perdendo velocidade – e muito provavelmente é incapaz de resistir a um choque significativo sem voltar a cair em recessão – o contributo da China é ainda muito importante.

 

Alguns números corroboram estas palavras. Se o crescimento económico da China alcançar 6,7% em 2016 – valor em linha com a meta oficial do Governo e ligeiramente acima da última estimativa do Fundo Monetário Internacional (6,6%) – a China pode ser responsável por 1,2 pontos percentuais do crescimento do PIB mundial. Com o FMI a prever agora apenas um crescimento de 3,1%, a China contribuiria com quase 39% deste valor.    

 

As outras grandes economias iam contribuir com pequenas percentagens. Por exemplo, apesar de os Estados Unidos serem amplamente elogiados pela sua recuperação sólida, é estimado que o seu PIB cresça apenas 2,2% em 2016 – o suficiente para contribuir com apenas 0,3 pontos percentuais para o crescimento global, ou apenas com cerca de um quarto do contributo da China.

 

É esperado que a esclerótica economia europeia acrescente apenas 0,2 pontos percentuais ao crescimento mundial e o Japão nem mesmo 0,1 pontos percentuais. De facto, o contributo da China para o crescimento mundial é 50% superior a 0,8 pontos percentuais, que é o valor que se espera que as chamadas economias avançadas, em conjunto, vão dar para o crescimento global.

 

Além disso, nenhuma economia em desenvolvimento se aproxima do contributo que a China dá para o crescimento mundial. É estimado que o PIB indiano cresça 7,4% este ano, ou 0,8 pontos percentuais mais rápido que o da China. Mas a economia chinesa é responsável por um total de 18% da produção mundial (medido com base em paridade de poder de compra) – mais do dobro da Índia, que conta com uma percentagem de 7,6%. Isto significa que o contributo da Índia para o crescimento do PIB mundial é provavelmente de apenas 0,6 pontos percentuais este ano – apenas metade do impulso de 1,2 pontos percentuais esperado por parte da China.

 

De forma mais ampla, é esperado que a China represente, no total, 73% do crescimento total do grupo dos chamados BRICS, composto por economias em desenvolvimento. Os ganhos da Índia (7,4%) e da África do Sul (0,1%) são ofuscados pela recessão da Rússia (-1,2%) e do Brasil (-3,3%). Excluindo a China, o crescimento do PIB dos BRICS deverá ficar por uns anémicos 3,2% em 2016.

 

Por isso, não importa a forma como se distribui, a China continua a ser um dos principais motores do crescimento mundial. Sim, a economia chinesa abrandou significativamente o ritmo de crescimento registado no período de 1980-2011, que foi em média de 10%. Mas mesmo depois da transição da "antiga normalidade" para o que a liderança chinesa apelidou de "nova normalidade", o crescimento económico mundial continua fortemente dependente da China.

 

Há três grandes implicações que advêm da persistente dinâmica de crescimento mundial centrado na China.

 

Em primeiro lugar, e o mais óbvio, a contínua desaceleração do crescimento chinês terá um impacto muito maior no fraco crescimento mundial, que não teria se o mundo estivesse a crescer a um nível próximo de uma tendência de longo prazo de 3,6%. Excluindo a China, o crescimento do PIB mundial seria de cerca de 1,9% em 2016 – bem abaixo dos 2,5%, o limiar comumente associado às recessões mundiais.

 

A segunda implicação está relacionada com a primeira e é a amplamente temida "aterragem dura" para a China, que teria um impacto global devastador. Cada decréscimo de um ponto percentual no crescimento do PIB chinês retira 0,2 pontos percentuais directamente do PIB mundial. Incluindo o efeito de arrasto para o comércio externo, o impacto total para o crescimento mundial seria de cerca de 0,3 pontos percentuais.

 

Se definirmos uma aterragem dura como uma redução para metade da actual taxa de crescimento de 6,7%, os efeitos directos e indirectos combinados de tal desfecho iriam retirar cerca de um ponto percentual ao crescimento mundial total. Perante tal cenário não há maneira de o mundo evitar outra recessão plena.

 

Por fim (e a possibilidade mais provável no meu ponto de vista), há impactos para mundo de um equilíbrio bem-sucedido da economia chinesa. O mundo pode beneficiar, e muito, se as componentes do PIB chinês continuarem a passar das exportações e do investimento liderado pela produção para os serviços e consumo das famílias.

 

Perante tais circunstâncias, a procura doméstica chinesa tem o potencial de tornar-se uma fonte cada vez mais importante do crescimento assente nas exportações para os principais parceiros comerciais da China – desde que, claro, seja dado aos outros países acesso livre e aberto a expandirem-se rapidamente para o mercado chinês. Um cenário de um equilíbrio bem-sucedido da China tem o potencial para estimular a procura mundial como uma nova e importante fonte de procura agregada – um antídoto poderoso para um mundo que, de outra maneira, está muito lento. Essa possibilidade não deve ser ignorada, numa altura em que as pressões políticas condicionam o debate sobre o comércio mundial.

 

Apesar de todo o foco nos Estados Unidos, Europa ou Japão, a China continua a ter um trunfo na debilitada economia mundial. A aterragem dura da China seria desastrosa mas um reequilíbrio bem-sucedido seria um benefício inqualificável. Isso poderia fazer com que o prognóstico para a China seja um factor decisivo para as perspectivas económicas mundiais.

 

Apesar de os indicadores mensais mostrarem uma estabilização da taxa de crescimento nos 6,7% registados no primeiro semestre de 2016, não pode haver equívocos sobre os obstáculos que pairam sobre a segunda metade do ano. Em particular, a possibilidade de uma queda mais acentuada no investimento em activos fixos no sector privado, que poderá exacerbar as pressões já existentes associadas a desalavancagem, procura externa persistentemente fraca e um ciclo de propriedades vacilante.

 

Mas, ao contrário da maioria das economias do mundo desenvolvido, onde o espaço político está severamente limitado, as autoridades chinesas têm amplas oportunidades para movimentos acomodatícios que podem apoiar a actividade económica. E, ao contrário da maioria das economias no mundo desenvolvido, que luta constantemente para encontrar uma solução de compromisso entre as pressões cíclicas de curto prazo e as reformas estruturais de longo prazo, a China é perfeitamente capaz de abordar os dois conjuntos de desafios em simultâneo.

 

Se a liderança chinesa for capaz de manter tal política multi-dimensional e o foco nas reformas, uma economia mundial frágil e vulnerável só pode sair a ganhar. O mundo precisa, mais do que nunca, de uma China com sucesso. 

 

Stephen S. Roach, docente da Universidade de Yale e antigo presidente do Morgan Stanley Asia, é autor de Unbalanced: The Codependency of America and China.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2016.

www.project-syndicate.org

Tradução: Ana Laranjeiro

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