pixel

Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Notícias em Destaque
Nouriel Roubini - Economista © Project Syndicate www.project-syndicate.org
28 de Junho de 2016 às 20:30

Populistas e produtividade

As economias avançadas têm uma grande responsabilidade na resolução das causas da desaceleração da produtividade, antes que esta ponha em risco a estabilidade social e política.

Desde que a crise financeira mundial eclodiu em 2008, o crescimento da produtividade nas economias avançadas - Estados Unidos, Europa e Japão - tem sido muito lento, tanto em termos absolutos como em relação às décadas anteriores. Mas isto está em contradição com a opinião que prevalece em Silicon Valley e outros centros globais de tecnologia, de que estamos a entrar numa nova era de ouro da inovação, que vai aumentar radicalmente o crescimento da produtividade e melhorar a nossa forma de viver e trabalhar. Então, porque é que esses ganhos não apareceram, e o que pode acontecer se não chegarem a surgir?

 

Inovações revolucionárias são evidentes em, pelo menos, seis áreas:

 

  •          - Tecnologias na área da energia, incluindo novas formas de combustíveis fósseis, como o gás e o petróleo de xisto, e fontes de energia alternativas como a energia solar e eólica, tecnologias de armazenamento, tecnologia limpa e redes eléctricas inteligentes.

 

  •          - Biotecnologias, incluindo a terapia genética, investigação sobre células estaminais e o uso do "big data" para reduzir radicalmente na área da saúde e permitir que os indivíduos vivam durante mais tempo e de forma mais saudável.

 

  •          - Tecnologias de informação, tais como a Web 2.0/3.0, redes sociais, novas aplicações, a Internet das Coisas, "big data", "cloud computing", inteligência artificial e dispositivos de realidade virtual.

 

  •          - Tecnologias de produção, como a robótica, automação, impressão em 3D e produção personalizada.

 

  •          - Tecnologias financeiras que prometem revolucionar tudo, desde sistemas de pagamento ao crédito, serviços de seguros e alocação de activos.

 

  •          - Tecnologias de defesa, incluindo o desenvolvimento de drones e outros sistemas de armamento avançados.

 

Ao nível macro, o dilema é perceber porque é que essas inovações - muitas das quais já implementadas nas nossas economias - ainda não conduziram a uma subida do crescimento da produtividade. Há várias explicações possíveis para o que os economistas chamam de "quebra-cabeças da produtividade".

 

Em primeiro lugar, alguns pessimistas tecnológicas - como Robert Gordon, da Northwestern University - argumentam que o impacto económico das inovações recentes é tímido em comparação com o das grandes inovações da Primeira e Segunda Revolução Industrial (máquina a vapor, electricidade, água canalizada e saneamento, antibióticos e daí por diante). Mas, como o historiador económico Joel Mokyr (também da Northwestern) argumentou, é difícil ser um pessimista tecnológico, dada a amplitude das inovações que estão a surgir e que deverão surgir ainda nas próximas décadas.

 

Uma segunda explicação é que estamos a calcular mal a produção real - e, consequentemente, o crescimento da produtividade - porque os novos produtos e serviços baseados na informação são difíceis de medir, e os seus custos podem estar a cair de forma mais rápida do que os métodos convencionais nos permitem avaliar. Mas se isto fosse verdade, seria preciso argumentar que os erros de cálculo do crescimento da produtividade são mais acentuados hoje do que em décadas passadas de inovação tecnológica.

 

Até agora, não há nenhuma prova empírica de que isto seja verdade. No entanto, alguns economistas sugerem que não estamos a medir correctamente a produção de software mais barato - em oposição ao hardware - e os muitos benefícios dos bens gratuitos associados à internet. Com efeito, através dos motores de busca e das aplicações omnipresentes, o conhecimento está quase sempre nas nossas mãos, tornando a nossa vida mais fácil e mais produtiva.

 

Uma terceira explicação é que há sempre um desfasamento entre a inovação e o crescimento da produtividade. Na primeira revolução da internet, a aceleração do crescimento da produtividade que começou no sector da tecnologia só se expandiu para o resto da economia muitos anos mais tarde, quando as novas ferramentas digitais começaram a ser aplicadas à produção de bens e serviços. Desta vez, também pode demorar algum tempo até que as novas tecnologias se tornem generalizadas e conduzam a um aumento no crescimento da produtividade.

 

Há uma quarta possibilidade: o crescimento potencial e o crescimento da produtividade caíram desde a crise financeira, com o envelhecimento populacional na maioria da economias avançadas e alguns mercados emergentes (como a China e a Rússia), combinado com a queda do investimento em capital físico a resultar numa menor tendência de crescimento. Na verdade, a hipótese de "estagnação secular" proposta por Larry Summers é consistente com esta queda.

 

Uma explicação relacionada enfatiza o fenómeno que os economistas chamam de histerese: uma desaceleração cíclica persistente ou fraca recuperação (como a que temos visto desde 2008) pode reduzir o crescimento potencial por, pelo menos, duas razões. Em primeiro lugar, se os trabalhadores ficam desempregados por muito tempo, perdem as suas competências e capital humano; em segundo lugar, como a inovação tecnológica é incorporada em novos bens de capital, a queda do investimento reduz, de forma permanente, o crescimento da produtividade.

 

A verdade é que não sabemos ao certo o que está a provocar a quebra da produtividade ou se é um fenómeno temporário. É muito provável que todas as explicações propostas tenham o seu mérito. Mas se o fraco crescimento da produtividade persistir - e com ele o crescimento insuficiente dos salários e padrões de vida - a recente reacção populista contra o livre comércio, a globalização, a migração e as políticas orientadas para o mercado deverá ganhar força. Assim, as economias avançadas têm uma grande responsabilidade na resolução das causas da desaceleração da produtividade, antes que esta ponha em risco a estabilidade social e política.

 

Nouriel Roubini é presidente da Roubini Global Economics (www.roubini.com) e é professor de Economia na Stern School of Business, da Universidade de Nova Iorque.

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2016.

www.project-syndicate.org

Tradução: Rita Faria

Ver comentários
Ver mais
Publicidade
C•Studio