Parte da razão pela qual chegámos a este perigoso ponto é termo-nos mantido por muito tempo com as cabeças debaixo da areia. Agora temos de recuperar o tempo perdido.
Tal como na década de 1970, persistentes e repetidos choques negativos na oferta vão conjugar-se com políticas monetárias, orçamentais e de crédito expansionistas para produzir estagflação.
Embora a atual situação mundial nos confronte com muitas questões, não há qualquer mistério para resolver. As coisas ainda vão piorar bastante antes de melhorarem.
A História mostra-nos que uma aterragem suave é altamente improvável. Isso deixa-nos perante a possibilidade simultânea de uma aterragem forçada e um regresso a uma inflação mais baixa, ou perante um cenário estagflacionista. Em qualquer dos casos, é muito provável que haja uma recessão algures nos próximos dois anos.
A inteligência artificial, a automação e a robótica não são um bem inalterável. Se forem melhoradas a ponto de conseguirem criar uma desinflação significativa, talvez também perturbem profissões e indústrias inteiras, ampliando as já grandes disparidades de riqueza e rendimento. Isso convidaria a uma reação política ainda mais forte do que aquela que já observámos. com todas as consequências políticas estagflacionistas que provavelmente daí resultariam.
Com o tempo, o endurecimento das políticas monetárias poderá provocar uma desaceleração do crescimento ou uma absoluta recessão. Mas outro risco é o de que a política monetária seja condicionada pela ameaça de uma armadilha da dívida.
As consequências económicas e financeiras da guerra e o consequente choque estagflacionário, obviamente serão maiores na Rússia e na Ucrânia, seguidas pela União Europeia, devido à sua forte dependência do gás russo. Mas os EUA também sofrerão.
Se a inflação permanecer muito acima da meta de 2% definida pela Reserva Federal norte-americana – o que acontecerá se apenas diminuir ligeiramente face aos atuais níveis elevados –, os juros das obrigações de longo prazo subirão muito mais e os preços das ações poderão acabar em “mercado urso”.
A agressiva pressão no sentido de descarbonizar a economia está a levar a um subinvestimento na capacidade dos combustíveis fósseis antes de haver oferta suficiente por parte das energias renováveis.
Se demonstrar que a redistribuição intracomunitária pode ser realizada de forma eficiente e eficaz, Itália poderá, fundamentalmente, mudar a política da União Europeia, abrindo caminho para um mecanismo permanente de redistribuição e para a criação de uma união orçamental.
A austeridade, por si só, não pode resolver o problema. Para voltar a endireitar-se, a África do Sul precisa de um programa para expandir a assistência social e recapitalizar as empresas, ao mesmo tempo que leva também a cabo reformas estruturais e promove a consolidação orçamental.