Marcelo sabe mais de intriga e estratégia política que todos nós. Não há inocentes neste bate-boca. O que Marcelo faz, desarmando o outro lado, é colocar as questões de uma forma até simplista, mas clarificadora, porque centra o essencial: de um lado, a trica e a política de gabinete; do outro, as pessoas, as vítimas, aquilo que interessa.
Os últimos dias do primeiro-ministro surpreendem. Ou não. Talvez António Costa seja um jogador. Com o efeito hipnótico do "Jogador" de Dostoiévski - e se assim for é absolutamente precioso. A criatura encarna-se próximo da perfeição.
Sessenta e quatro, mais 36 (até à hora de fecho deste texto). Não é um número, são pessoas.
Sabem o que pode vir se Rui Rio ganhar o PSD? Uma espécie (em modo de inteligência artificial) das "Conversas em Família" de Marcello Caetano, que tanto sossegaram o país.
Quando a notícia é um jantar algures nos arredores de Lisboa que junta Manuela Ferreira Leite, Ângelo Correia e Nuno Morais Sarmento para decidirem o futuro do PSD, parece que, pelo contrário, voltámos ao passado.
As eleições autárquicas são a verdadeira e mais pura expressão do pulsar democrático de um povo. Porque trata do que diz respeito à rua e à porta, porque os candidatos são gente da terra (na sua maioria) a quem se pode e deve pedir soluções e justificações acerca de problemas concretos. Não é o país do parlamento, das leis e da macroestratégia.
As horas de Marcelo em Angola são isso mesmo: um político contra um mundo egocêntrico e mimético nas relações de poder. O de Marcelo é tanto maior quanto a naturalidade em despentear esse mundo. Foi por isso, que é muito, que sempre defendi o tempo de Marcelo Presidente.
É um fascínio da natureza humana. Como o demónio se transforma na esperança de que vença um aperto. Angela Merkel é hoje para a esquerda, da mais lúcida à mais radical, a aposta em que se encavam todas as fichas. Sem pudor ou memória, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e os tagarelas do PS bafiento olham para a senhora e pedem aos santinhos que seja ela (lembram-se o que eles diziam de Merkel?) a salvadora da pátria.
Por mero acaso e circunstância feliz, vi Portugal ser campeão europeu junto a Mário Centeno. Celebrámos. No dia seguinte, bem cedo, o ministro das Finanças chegava ao Ecofin de cachecol da vitória. Foi aí que tudo mudou? Não, mas ajudou.
Jerónimo, velha raposa, viu o filme e pôs legendas: o PCP, gordo, está disposto a entrar num próximo governo. O que é que o líder dos comunistas quer? É simples: evitar uma maioria absoluta do PS, ideia que encanita a memória de décadas trocada por um curto assomo de vingança. Se isso acontecer, ler-se-á e ficará como a entrega do ouro ao bandido.
Seria bom que Manuel Caldeira Cabral, um homem bom, sério, cuidadoso e competente, tivesse razão. Diz o ministro da Economia que o Governo "acabou com a austeridade". O ministro vive neste mundo, mas não é deste Governo.