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Tiago Freire tiagofreire@negocios.pt
15 de Maio de 2017 às 00:01

O esplendor de Portugal

O país regressa esta segunda-feira ao trabalho, ainda atarantado com um fim de semana de emoções fortes.

Primeiro o Papa Francisco no centenário das aparições de Fátima, numa organização feliz e sem mácula (excepção feita às condições dadas a parte das forças de segurança). De seguida, dia histórico para o Benfica, espalhando a festa pelo país e pelas comunidades portuguesas pelo mundo. E, por fim, a extraordinária e surpreendente vitória de Salvador Sobral no festival da Eurovisão.

A auto-estima dos portugueses anda em alta, com a vitória no Europeu de futebol de França, a máquina infernal que é Cristiano Ronaldo, e com o ego massajado pelos muitos milhares de turistas que todos os dias descobrem tudo o que temos de bom para oferecer.

Nós não estamos habituados a isto. A sermos elogiados. A cumprir (superar, até) objectivos, sobretudo financeiros. A vencer. A filosofia do português tem sido muito a do "pobre mas honrado", a do "vai-se andando", a do "só podemos dar o nosso melhor" e logo se vê os resultados.

Daí a vitória refrescante num concurso televisivo que tem décadas de história em Portugal e que marcou muito a nossa relação de pequeno com a Europa. Isto estava comprado; nunca ganhamos porque somos pequeninos; perdemos porque cantamos em português; perdemos porque estamos agarrados às nossas raízes e os outros não as entendem; perdemos porque somos pouco modernos; perdemos porque, enfim, nascemos para perder.

Salvador Sobral, o 'freak' aluado, matou isto tudo numa noite em Kiev. Ganhou fazendo diferente, cantando na nossa língua, sem efeitos especiais ou bailarinos com cara de modelo. Até a aparente naturalidade com que reagiu à vitória, e a assertividade do seu discurso, nos são estranhos. Não foi Portugal que ganhou, foi aquele rapaz. Porque acreditou em si, seguiu o seu caminho, e foi recompensado.

Portugal anda com bom karma, isso é inegável. Tal como são inegáveis os efeitos que isto tem sobre a economia (espero que António Costa tenha acendido umas velinhas em Fátima) e sobre a nossa confiança, enquanto cidadãos, enquanto profissionais, enquanto portugueses.

O que fazemos com isto é o capítulo seguinte. Isto resolve algum dos nossos problemas fundamentais? Não. Mas a vida também é sonho, também é golpe de asa, também é acreditar em si próprio correndo o risco de errar. Sem medo de errar.

A euforia dos portugueses, por si, arrisca-se a ser vã, se for apenas uma porta para a ilusão. Que a usemos não para achar que está tudo bem e que não há mais caminho para fazer. Que a usemos para ter a confiança na nossa capacidade para fazer esse caminho.

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