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Nuno Carregueiro - Jornalista nc@negocios.pt
31 de Março de 2014 às 10:07

O mercado pediu, a PT perdeu

Há dez anos um analista do alemão Deutsche Bank sugeriu à Portugal Telecom que vendesse a posição que na altura a empresa portuguesa tinha na brasileira Vivo e entregasse o encaixe da operação aos accionistas.

Há dez anos um analista do alemão Deutsche Bank sugeriu à Portugal Telecom que vendesse a posição que na altura a empresa portuguesa tinha na brasileira Vivo e entregasse o encaixe da operação aos accionistas. Estávamos em 2004 (ainda longe da OPA da Sonaecom sobre a Portugal Telecom) e já nessa altura era enorme a pressão do mercado para a maior operadora portuguesa ser generosa com os accionistas. A sugestão do analista Guy Peddy (que ainda hoje segue a Portugal Telecom, mas agora na Macquarie) acabaria por concretizar-se, quando a Portugal Telecom decidiu defender-se da OPA da Sonaecom com a adopção de uma política de remuneração aos accionistas ainda mais agressiva. Grande parte do encaixe obtido com a oferta milionária da Telefónica pelos 50% da Vivo foi devolvido aos accionistas que recusaram a OPA do Grupo Sonae. Além disso, a Portugal Telecom comprometeu-se posteriormente com um pacote de remuneração aos accionistas extremamente atractivo (o "dividend yield chegou a atingir uns impensáveis 16%). Em 2010 entregou 1.410 milhões aos accionistas e em 2011 deu mais 1.165 milhões de euros. O dividendo por acção (somando o extraordinário e o ordinário) chegou a atingir 1,5 euros, baixou depois para 0,325 euros e este ano afunda para 0,10 euros.

Olhando para a capitalização bolsista actual da Portugal Telecom é fácil concluir que a empresa saiu a perder com a política de dividendos que adoptou. O mercado pediu, os accionistas exigiram e a PT derrotou a OPA da Sonaecom. Mas perdeu porque é hoje uma empresa com uma capitalização bolsista inferior a 3 mil milhões de euros (já superada pela rival Zon). A fusão com a Oi deverá proteger a PT de uma ofensiva por parte de um gigante do agitado sector das telecomunicações, mas o caso da empresa serve para validar uma das regras de ouro para ganhar com os dividendos que os analistas contactados pelo Negócios lhe sugerem nesta edição: Procure garantir dividendos sustentáveis.

Os dividendos que a Portugal Telecom prometeu aos accionistas não eram sustentáveis e isso hoje está à vista de todos. O erro foi corrigido e hoje a PT tem um dividendo que continua a ser atractivo face à cotação das acções, mas perdeu o estatuto de campeã da remuneração aos accionistas. Esse estatuto pertence agora à REN, uma cotada bem menos "sexy" na praça portuguesa, mas a ideal para quem gosta de investir a longo prazo na bolsa e receber bons dividendos. A gestora das redes de energia e gás de Portugal tem uma política de dividendos clara e resultados bastante previsíveis. Entrega aos accionistas praticamente todos os lucros que obtém, mas a natureza da sua actividade permite garantir este compromisso, sem colocar em causa o seu futuro. Mas há mais bons exemplos de cotadas portuguesas com dividendos atractivos e sustentáveis. Como pode ver na análise que o Negócios publica hoje, empresas como os CTT e a Portucel também cumprem estes requisitos. São companhias que têm elevados "cash flow" e níveis de endividamento reduzidos.

Além de seleccionar bem as cotadas que devem integrar a sua carteira para receber bons dividendos, há outras regras de ouro que os investidores devem cumprir. É um risco elevado tentar ganhar com os dividendos comprando a acção dias antes do desconto da remuneração para sair logo de seguida. Como recomendam os analistas citados nesta edição, o longo prazo é sempre a melhor estratégia para ganhar com os dividendos.

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