A Dinamarca quer que a Europa se mantenha firme no caminho da transição climática, mesmo numa altura em que Bruxelas recua em algumas ambições na área da sustentabilidade. A poucos dias de a Comissão preparar a nova meta climática para 2040 — que poderá implicar uma redução de 90% nas emissões face a 1990 — o executivo comunitário surpreendeu ao retirar, na semana passada, a proposta legislativa da Diretiva das Alegações Ecológicas. A decisão, tomada após dois anos de negociações, foi justificada como estando “de acordo com o contexto atual”.
Para Lars Aagaard, ministro dinamarquês da Energia e Clima, o momento exige mais ambição e coerência. Em declarações à Reuters, o governante defendeu que “não é uma solução para o clima, nem para os desafios de segurança, parar a transição verde na Europa”. A Dinamarca prepara-se para assumir a presidência rotativa do Conselho da União Europeia em julho e terá um papel central nas negociações da nova meta climática.
A proposta de Bruxelas enfrenta forte resistência por parte de países como a Polónia e França, que consideram os objetivos demasiado exigentes num momento em que os orçamentos nacionais estão sob pressão, em parte devido ao aumento da despesa militar. Lars Aagaard reconhece os desafios, mas lembra que a resposta passa pela aposta na produção interna de energia verde. “A resposta para a competitividade da Europa é que façamos a transição para usar eletricidade em mais áreas”, afirmou. “Podemos fazê-lo com energia renovável. Podemos fazê-lo com energia nuclear”, exemplificou.
Mas enquanto a Dinamarca se posiciona como defensora de uma visão mais ambiciosa, a Comissão Europeia dá um passo atrás na regulamentação ambiental. A proposta Diretiva das Alegações Ecológicas, retirada na semana passada, tinha como objetivo exigir provas científicas e verificação independente para alegações ambientais como “neutro em carbono” ou “produto sustentável”.
Segundo dados da própria Comissão, mais de metade destas alegações são vagas ou enganosas e 40% não têm qualquer fundamento. Ainda assim, o Partido Popular Europeu (PPE), o maior grupo político do Parlamento, pressionou Bruxelas a abandonar a proposta, alegando que esta criaria “encargos excessivos e complexos” para as empresas. Nas últimas semanas, foi ainda proposta uma simplificação alargada das obrigações de reporte de sustentabilidade corporativa, mais um sinal de recuo na ambição europeia.
“Não é uma celebração que a Europa tenha de rearmar-se militarmente. É porque estamos ameaçados. E também não é uma celebração termos de avançar com a transição verde. As alterações climáticas também são graves”, disse Lars Aagaard.
O novo objetivo para 2040 visa assegurar que a Europa se mantém no caminho entre o compromisso de 2030 e a neutralidade carbónica a atingir até 2050. A presidência dinamarquesa terá agora o desafio de recuperar o ímpeto e negociar uma meta climática que, para além de ambiciosa, seja politicamente viável. “Os desafios são muitos, mas não nos podemos dar ao luxo de hesitar”, sublinha o ministro dinamarquês.