1973: Crise com vista para a Primavera
Há 45 anos, o mundo sentia o choque de placas tectónicas: a crise do petróleo trazia a crise económica, israelitas e árabes combatiam numa guerra-relâmpago, os americanos começavam a penosa retirada do Vietname. Ninguém estava salvo. Em Portugal, os pés de barro do regime iam amolecendo com a declaração de independência da Guiné-Bissau.
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Portugal, em 1973, sentia que algo estava prestes a acontecer, mas ninguém sabia definir a força e o rumo do vento. A música insinuava o desconforto: saía um dos mais fundamentais discos de José Mário Branco, "Margem de Certa Maneira" e José Afonso editava "Venham Mais Cinco". E, num festival bem-comportado, ao serviço da unificação europeia, o Eurofestival, Fernando Tordo irrompia, desafiador, com "Tourada". A letra de José Carlos Ary dos Santos era quase apocalíptica: "Com bandarilhas de esperança/afugentamos a fera/estamos na Praça/da Primavera." O próprio mundo sentia o choque de placas tectónicas: a crise do petróleo trazia a crise económica, israelitas e árabes combatiam numa guerra-relâmpago, os americanos começavam a penosa retirada do Vietname. Ninguém estava salvo: em Dezembro desse ano, saía finalmente em França "O Arquipélago Gulag", o último soco no estômago do decadente império soviético, escrito pelo maior dissidente russo, Alexander Solzhenitsyn. A Guerra Fria tinha, por essa altura, perdedores em ambos os lados da chamada "cortina de ferro". Nada que Smiley, de John Le Carré, não adivinhasse há muito. Em Portugal, os pés de barro do regime iam amolecendo com a declaração de independência da Guiné-Bissau.
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