Morreu o século XIX
O corpo e a vida de Isabel II são a mais terna elegia de um perdido modo de vida, o que até os seus momentos mais triviais atestam.
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Vemos a rainha morta e um frémito de nostalgia arrepia-nos a pele. Não é a nossa rainha, diga-se: é a rainha deles, desses bifes com quem temos a mais velha aliança do mundo. Vejam, nem precisamos de ser monárquicos. Aliás, por mais que venhamos para rua gritar "viva a república!", o frémito e a nostalgia insistem, persistem e invadem-nos. É que a rainha morta, Isabel R., como assinava, é tanto uma pessoa como um sentimento. No seu corpo, vestido a cores pastel, encimado tantas vezes por chapéus garridos e talvez extemporâneos, nesse corpo guardava-se ou vinha, secreto, esconder-se todo o passado. Nela, no corpo da rainha Isabel II, descansava um certo modo de vida, todos esses pequenos hábitos e comportamentos que o tempo tornou anacrónicos (ou mesmo interditos) e que em algum momento fizeram, no entanto, a inefável delícia das nossas vidas.
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