Notas de Bissau
No país das cores, fala-se da falta de luz, da falta de água, dos buracos escavados pelas chuvas. Nas ruas, fala-se muito de política e de políticos. De desencontros e rivalidades de bastidores. A Guiné-Bissau esteve dois meses sem governo. E quase tudo parou neste país onde parece que está tudo por fazer. A vida faz-se. Mas faz-se pior.
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A luz falha em Bissau. As ruas estão escuras. A água é a conta-gotas. O lixo ganha corpo no país da lama bonita. No país das cores. A vida faz-se. Mas faz-se pior. Diz quem nunca teve luz em 42 anos de vida que o último ano de luz apagou os outros 42. O Homem habitua-se. Dois meses sem governo pararam um país que estaria a dar sinais de vida nova. Agora, os buracos das estradas estão mais escavados pelas águas que entretanto caíram do céu, os carros estão ainda mais ferrugentos. Na semana passada, e depois de um governo-relâmpago que a justiça apagou - o chamado "governo 48" -, há um executivo liderado por Carlos Correia, um "homi garandi" que foi primeiro-ministro do país algumas vezes, um colega de idade de Amílcar Cabral, ouve-se. Será suficiente para os parceiros internacionais desbloquearem os apoios travados pela crise política neste país que, sim, luta por ser um país, que, não, não é apenas "mais um país africano". Chama-se Guiné-Bissau, borbulha com vida e está cheio de histórias atrás da História.
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